Os socialistas super-ricos da Venezuela aproveitam festas caras e comida gourmet enquanto boa parte da população é obrigada a procurar comida no lixo, disputando comida com os cães, graças ao colapso econômico criado pelo mesmo socialismo.
No Caracas Country Club, onde ser membro custa 383 mil reais por ano, mulheres ricas são vistas comendo banquetes de caviar e lagosta enquanto bebem champanhe e observam uma farta e colorida seleção de pudins.
Enquanto isso, na favela de Petare, a alguns quilômetros dali, onde moram 370 mil venezuelanos, pessoas comuns buscam nas pilhas de lixo qualquer comida como folhas podres de repolho e restos fétidos de carne.
“Os ricos daqui são ladrões. Eles são empresários que se aliaram ao governo para roubar o dinheiro do país”, disse Vanessa, que ganha 70 reais por mês como analista em uma empresa de eletrônicos e tem que buscar comida no lixo para sobreviver. “Eles não querem que o socialismo acabe ou perderiam dinheiro. Chávez dizia que era um grande socialista, mas era igualmente rico. Ele era um hipócrita e um mentiroso. O legado que Chávez deixou foi o de pessoas como eu buscando comida no lixo”, continuou.
Por 20 anos, a economia venezuelana foi continuamente destruída pelo socialismo pregado por Chávez, quebrando o setor privado com estatizações em massa e regulamentação sufocante. Os preços eram controlados pelo estado – geralmente abaixo do custo de produção – e era proibido dar benefícios aos funcionários. A gasolina era vendida por preços irrisórios e os pobres tinham comida e saúde “gratuitas”.
Neste meio tempo, bilhões de dólares desapareceram do país por meio de membros do governo aliados a empresários corporativistas, o que levou a Venezuela a ser considerada pela Transparência Internacional um dos países mais corruptos do mundo.
Mesmo com todo o controle governamental, tendo as maiores reservas de petróleo do mundo e uma chuva de petrodólares entrando no país diariamente, o regime socialista continuou a avançar.
Entretanto, com o fim da farra de preços altos do petróleo, a utopia socialista mostrou sua verdadeira cara, a de criar um país falido. Nicolás Maduro decretou estágio de emergência em maio para governar sem autorização do Congresso e mais de 10 saques são registrados diariamente em lojas e supermercados pelo país. Maduro se recusa a sair do poder e tem atuado para prejudicar ao máximo os esforços da oposição para retirá-lo do poder por meio de um referendo popular.
Enquanto isso, na favela de Petare, uma mãe de três filhos, Maria, estava sentada em uma pilha de lixo procurando por comida: “Eu consigo mais comida aqui do que comprando com o nosso dinheiro. A nossa moeda não vale nada.”
A hiperinflação, que já alcança 700% ao ano (e causada pela impressão de dinheiro promovida pelo governo) destruiu a moeda venezuelana. A moeda de maior valor, a nota de 100 bolívares, vale no mercado “negro” pouco mais de 20 centavos de real, jogando milhões de pessoas na miséria. O governo não consegue sequer imprimir mais dinheiro.
“Meu marido está idoso e não ganhamos o suficiente para sobreviver”, disse Maria. “Tenho que ficar horas em filas para conseguir comida e muitas vezes nada consigo. Se busco no lixo, pelo menos consigo algo”.
Mãe de seis filhos, Carmen, de 39 anos, completa: “Eu não quero continuar procurando comida no lixo. Eu me sinto como se estivesse sufocando, como se não conseguisse respirar. Me sinto afogando. Mas meu marido está doente e temos fome”. Seu filho de 12 anos, Julio, a ajuda a procurar comida no lixo depois de sair da escola.
Não é apenas a comida que está em falta. No hospital El Algodonal em Antímano, Dayana, 30 anos, mãe de uma criança de cinco meses (Anna-Gabriela), embala a filha asmática e com bronquite. A criança está internada há oito dias e não há remédios, comida ou mesmo papel higiênico no hospital.
“Meu bebê precisa de antibióticos e remédios para asma, mas já visitei 10 farmácias e nenhuma delas tinha os remédios”, disse Dayana. “Não consigo olhar para a minha bebê e ver que ela não consegue respirar. Quero fazê-la melhorar, mas não consigo o tratamento”.
É um mundo completamente diferente do Country Club, onde garçons de branco servem coquetéis e canapés enquanto homens praticam suas jogadas de golfe tendo como fundo o horizonte da destruída e pobre Caracas.
“Não é que não nos preocupamos com os mais pobres. Doamos dinheiro para a caridade”, disse um dos jogadores de golfe. “Mas deveríamos parar de nos divertir apenas por que o país está ardendo?”
O Club é apenas um dos membros da rede de estabelecimentos exclusivos frequentados pela alta sociedade socialista da Venezuela. Próximos ao Country Club estão o Lagunita Country Club, com centro de hipismo e um auditório de ópera com membresia custando 215 mil reais; o Valle Ariba Golf Club, com membresia de 200 mil reais; e o Carenero Yacht Club, com marina para jet skis e iates, além de uma praia particular, cuja membresia custa 260 mil reais.
Os governantes socialistas da Venezuela há muito discordam desses símbolos “do capitalismo”, ameaçando confiscar suas terras para construir moradias sociais.
Nos bastidores, entretanto, os socialistas e os boligarcas – chamados assim por terem ficado milionários graças às suas conexões com o regime socialista bolivariano – são como unha e carne.
Diego Salazar, um empresário defensor do governo que foi denunciado em um escândalo de corrupção no setor de petróleo no ano passado, é um membro do Country Club, Alejandro Andrade, ex-Ministro de Finanças do governo Chávez que se tornou famoso por viajar em um jatinho privado que custa 30 milhões de reais, é um frequentador do clube.
Dentro do Country Club, o Penguin Bar oferece um ambiente ar-condicionado, cadeiras de couro, uísques e charutos caros, enquanto o restaurante, que vende garrafas vintage de champanhe, se orgulha de seu bife de salmão defumado.
Enquanto isso, as prateleiras dos supermercados do país estão vazias, apesar (e graças) à intervenção estatal no setor de alimentação. Alguns venezuelanos desesperados recorrem a trocas voluntárias por meio do Facebook para obter comida, remédios e produtos de higiene.
Os socialistas ricos obtém seus caros alimentos por meio do “mercado negro”, onde a escassez de alimentos fez os preços subirem. Os vendedores desse mercado, conhecidos como formigas, ou “Bachaqueros” – por causa da quantidade de carga que carregam em suas costas – compram esses e outros produtos na Colômbia, revendendo-os na Venezuela. Uma estimativa mostra que um em cada quatro venezuelanos obtinha comida dessa forma antes da fronteira entre os dois países começar a ser aberta aos finais de semana.
Fora de Caracas, a falta de produtos é ainda mais crítica. No supermercado de Excelsior Gama, ao norte da capital, milhares de pessoas discutiam e ficavam impacientes numa desorganizada fila enquanto soldados armados com metralhadoras tentavam manter a paz. Muitos esperavam nas filas desde as 4 da manhã, na esperança de conseguir um litro de óleo de cozinha e um quilo de macarrão por família.
“Estamos em uma dieta forçada. Todos perderam peso”, disse Carlos Acuna, 56 anos, um guarda de segurança e pai de seis filhos. “Tivemos uma revolução socialista e esses são os resultados. Essa é a dieta da revolução.”
Na cidade rural de Tacarigua de Mamporal, um cão Weimaraner foi encontrado amarrado em uma árvore, morrendo de fome.
Carlos de Parra, 39 anos, e sua mulher Yoraima, 34 anos, têm sete filhos com idades entre 6 e 17 anos. Ele trabalha como faxineiro enquanto ela vende comida nas ruas, mas graças à inflação criada pela atuação do estado, eles ganham apenas 9 reais por semana. Vivendo sem eletricidade e água encanada, a família tem tão pouco para comer que estão começando a morrer de fome.
No armário da cozinha havia apenas um pacote de sal. Na geladeira, apenas umas poucas limas com bolor e um bolo de massa, do tamanho de uma mão. Era esse o almoço para o casal e os sete filhos.
“Eu planto milho, feijão e inhame, mas não é o suficiente para nós, e os vermes estão comendo as plantas”, disse Carlos. “Não tenho dinheiro para pesticidas ou fertilizantes. Na última semana fiquei horas na fila de uma loja, e no final saí com nada. Nunca tive que lutar tanto por comida”.
Na última semana, ladrões armados invadiram a casa de Carlos e Yoraima, roubando a máquina de lavar. Na semana anterior, a polícia confiscou o rifle que ele utilizava para caçar cervos e alimentar sua família.
“É difícil explicar como me sinto. Não consigo encontrar as palavras. Há tantas coisas que precisamos e não podemos encontrar. Todo venezuelano está bravo”, disse Carlos.
O colapso econômico trouxe também um grande aumento na criminalidade. A taxa de homicídios em Caracas se tornou a maior do mundo, tornando a cidade a mais perigosa do mundo. A política de Chávez que criou milícias armas civis e “coletivos” para defender a revolução socialista deixou as armas nas mãos daqueles que ignoram as leis, enquanto os cidadãos foram desarmados.
O povo vive com medo constante de ser assaltado ou sequestrado, e muitos membros da classe média que restou estão fugindo para a Colômbia ou Estados Unidos. Mesmo os mais fanáticos apoiadores do governo – os chamados “chavistas” – estão começando a duvidar do regime.
Marlene Gaspar, 44 anos, atua como segurança em um hospital e atua na milícia que ajuda o governo a manter a ordem nas filas de comida. Mas ela está tão fraca por causa da fome, que não comparece mais aos treinamentos paramilitares semanais.
“Eu costumava estar acima do peso, mas agora estou magra”, disse. “Muitas vezes deixo de comer para dar comida aos meus filhos. Chávez supostamente iria mudar as coisas, mas não o fez. Pelo contrário: os ricos têm muito dinheiro e belos carros, enquanto todos os demais estão morrendo de fome. Meu coração está pesado. Fui engada. O sonho socialista é uma farsa”.
Tradução: Marcelo Faria