O desfile da escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti repercutiu na última segunda-feira (12). A escola fez referência aos 130 anos da Lei Áurea e incluiu em seu desfile a ala “Os Guerreiros da CLT” com “trabalhadores que portavam carteiras de trabalho” para criticar a reforma trabalhista e a “exploração” dos trabalhadores; e um carro representando um “navio negreiro com a ala dominante se impondo sobre os trabalhadores” tendo um “vampiro neoliberalista” com a faixa presidencial, numa alusão a Michel Temer que, com o apoio do Congresso, aprovou a Reforma Trabalhista.
Uma consulta feita pelo ILISP aos microdados do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho, entretanto, mostra que a escola de samba empregou somente três trabalhadores pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) no ano de 2017, mesmo tendo utilizado dezenas de trabalhadores para preparar fantasias, carros alegóricos e demais componentes do desfile.
Na medida em que o Código e Descrição de Atividade Econômica (CNAE) de escolas de samba é bastante específico (94936) e os dados permitem filtrar contratações feitas por bairro (no caso da Tuiuti, o bairro de São Cristóvão), o ILISP verificou que somente três contratações foram feitas por “organizações associativas ligadas à cultura e à arte” no bairro sede da Paraíso do Tuiuti – a única escola de samba do bairro – em 2017.
Duas das contratações ocorreram em maio de 2017: dois jovens aprendizes de 16 e 17 anos de idade foram contratados por 20 horas semanais cada, com prazo determinado e salário de R$ 553,00 mensais. Em outubro de 2017 ocorreu a terceira contratação: um homem de 23 anos de idade e ensino superior completo foi recontratado por 40 horas semanais e salário de R$ 2.618,00 por mês. O número de trabalhadores contratados é certamente insuficiente para preparar um desfile de escola de samba.