Os amantes da liberdade em todos os lugares mordem as unhas durante a época de eleição perguntando como o dano pode ser limitado. Dependendo de quem ganha o controle, podemos ter guerras comerciais, sistema de saúde nacionalizado, o saque da bolsa de valores, mais impostos, a vigilância do seu smartphone, deportações em massa, campos de concentração, o que você imaginar de pior.
Mas e se o poder do governo fosse tão limitado que não importaria quem ocupa a presidência? Isso não seria uma grande melhoria?
Digamos que Rutherford B. Hayes, que foi presidente dos EUA entre 1877-1881, poderia ser um demagogo fascista e barbudo candidato a ditador. Talvez poderíamos dizer o mesmo dos presidentes americanos Chester A. Arthur (1881-1885), James Garfield (1881) ou Benjamin Harrison (1889-1893). Vamos dizer que todos eles eram autoritários loucos que desejavam governar o país como um feudo.
Será que realmente importa? Provavelmente não.
Estes foram os presidentes que não “fizeram história”, o que é bom para eles. Quase ninguém se lembra deles. Eles são geralmente listados entre os “piores” presidentes, o que quer dizer que eles não causavam grandes transtornos. Estes presidentes ficavam em seus escritórios num momento em que o setor privado estava crescendo a taxas incríveis.
Como resultado, eles não tinham um extenso controle da burocracia. Não existia CIA, NSA, FBI, entre outras, muito menos quem fizesse suas funções. Até a Suprema Corte era deficiente. Também não havia Receita Federal para que o presidente pudesse se certificar de quem seria perseguido como inimigo. Ainda não havia meios para vigiar a população. O governo não possuía armas de destruição em massa.
Não havia banco central para financiar guerras e o estado de “bem-estar social”. Na verdade, o governo federal tinha que equilibrar seu orçamento ano após ano (os estados também) porque o país estava no restrito padrão-ouro. Você não podia simplesmente imprimir dinheiro sem limites. Se o dinheiro não estivesse lá, tinha que ser emprestado nas taxas do mercado. O exército era pequeno. Não havia controle de imigração, impostos direitos e nem passaportes.
Não havia interferência do governo federal na educação, nos planos de saúde ou no comércio. Não havia regulação anti-truste, nenhuma taxa de seguro social, nenhuma regulação de produtos, nenhuma gestão ambiental estatal, nenhum controle de preço ou leis trabalhistas entre trabalhadores e empregadores, nenhuma guerra as drogas nem longas datas para testar produtos farmacêuticos, nenhuma zona de desarmamento, não havia grandes complexos militares e nem capacidade de taxar lucros.
O maior poder que esses presidentes tinham era de direcionar alguns contratos de infra-estrutura para seus amigos. É nessa hora que eles se mostravam corruptos, mas o dano que eles causavam era limitado. O dinheiro deles vinham de algumas tarifas e seu pequeno orçamento refletia isso. Os presidentes eram gerentes de um governo limitado que não se intrometia na vida das pessoas. O governo que esses homens lideravam tinham limites para o que podiam fazer, Eles não tinham planos políticos para falar porque a política como a conhecemos mal existia.
O Leviatã como conhecemos ainda não havia sido inventado. Essa ideia surgiu depois, no Século XX. Quaisquer que fossem as ambições dos presidentes desse período, eles não podiam ser realizadas por meio da atuação oficial. Portanto, os riscos eram extremamente baixos para o país. Por esse motivo, esses homens são desconhecidos e, mesmo naquela época, dificilmente alguém prestou atenção em quem era o presidente. O presidente era um gerente que mantinha uma honrável posição com o interesse de cuidar daqueles que precisavam de ajuda.
Por piores que sejam os candidatos nesse ano – quanto maiores forem as ameaças que cada um deles fizerem aos direitos e liberdades individuais – isso não seria um problema se o poder de atuar dos políticos em benefício próprio não foi possível. É isso que significa um governo limitado: não importa o quão ruim é a pessoa que esta na presidência, ele ou ela não possui acesso às ferramentas necessárias para provocar danos na população.
Esse é um sistema muito melhor. Com o poder sobre a população limitado não pela escolha do “bom menino” que venceu a eleição, mas porque as instituições que ele ou ela controlam não podem ser usadas como ferramenta de opressão. Nós não deveríamos ter que nos preocuparmos sobre o caráter ou ambição da pessoa que elegemos. Um bom sistema de governo é aquele que é protegido contra o controle de pessoas perversas. Deveria inclusive ser protegido contra pessoas boas que querem usar o estado para realizar seus ideais. O governo deveria ser um estrutura impenetrável às ambições pessoais de seus gestores temporários.
Sob tal sistema, não havia sentido em termos histéricos da direita e da esquerda exigindo que o poder seja usado para um grupo e contra o outro. Você poderia gritar o quanto quiser, mas teria tanto efeito quanto gritar com a pintura de uma parede para mudar sua cor. Isto é o que significa viver sob regras ao invés de viver sob ordens arbitrárias baseadas na ambição humana.
Culpar aqueles que são atualmente demandam políticas loucas, assustadoras e destrutivas é não atingir a raiz do problema. A verdadeira culpa é das gerações que, há um século, derrubaram o sistema de livre mercado e o substituíram por um estado centralizador com o poder de gerenciar nossas vidas, roubar nosso lucros, redistribuir renda, gerenciar o setor industrial, participar de conflitos militares ilimitados, criar bolhas econômicas e salvar indústrias à beira da falência.
Uma vez criado, o poder sempre será usado. A busca por atender interesses especiais e o clamor das massas para que o poder seja usado em seu favor é um resultado inevitável. Com o poder também há uma divisão da população, com pessoas fervendo de ódio contra aqueles que ficar em seu caminho e grupos de interesses consumidos pelo ódio contra qualquer pessoa com uma chance de usar o poder para sua própria vantagem. A existência do poder em si, e não a das pessoas que querem usá-lo em seu proveito, é a fonte do conflito. E esse conflito ameaça destruir amizades e até mesmo a própria sociedade. É a própria arrogância governamental a razão pela qual todos não podem se entender.
Então pense: as pessoas que criaram esta confusão estão mortas há muito tempo, mas elas ainda nos controlam. Eles nos presentearam com um monstro que a atual geração deve enfrentar. Logo, há apenas uma maneira responsável de avançar: desmantelar o Leviatã antes que ele destrua a todos nós.
Tradução: Rafael Cury. Revisão: Marcelo Faria