Há não muito tempo, como a maioria das nações vizinhas, o Paraguai era satirizado e, não raramente, escarnecido, onde quer que se falasse dele. Na televisão e na rua, tudo que viesse desse país era “meia-boca”, “porcaria” ou falsificado. Era bem comum que, quando uma pessoa fosse ruim no que fazia, fosse adjetivada como “paraguaia”; o mesmo valia para qualquer produto paralelo que circulasse no mercado (embora a maioria deles viesse da China).
Pouco mais de cem anos atrás, em 1870, o Paraguai estava estruturalmente e humanamente destruído. Com praticamente 75% da população tendo morrido na guerra travada com o Brasil, sobrando apenas mulheres, idosos e crianças (a população economicamente inativa do país), tempos tenebrosos seguiram-se na nação: a economia simplesmente ruiu e muitos territórios foram perdidos para países vitoriosos.
Hoje, no entanto, a coisa parece ter mudado de figura. Enquanto o gigante Brasil, que nunca perdeu uma guerra e que possui mais de vinte vezes o território paraguaio em tamanho, está afundando em inflação, crise política, ingerência econômica e corrupção sistêmica, o Paraguai ressurgiu no cenário socioeconômico mundial como uma potência. Sendo a economia latino-americana que mais cresce (5% em 2015), nossos hermanos paraguaios já figuram entre os “tigres latinos”, grupo do qual Chile e México fazem parte, com a possível entrada da Argentina nos próximos anos.
Com uma industrialização que avança cada vez mais e um notável desenvolvimento do setor terciário, o Paraguai foi capaz de modernizar seus setores financeiro e de transportes; melhorar a produção agrícola, sobre a qual tradicionalmente o país se apóia; e tirar milhões de cidadãos da pobreza, sem nenhum programa assistencialista milagroso como o nosso impávido colosso tem feito há treze anos desde que o governo do PT assumiu o poder.
Assunção, onde morreu Solano López nos últimos dias da guerra, cidade que foi saqueada, vandalizada e incendiada pelo exército brasileiro, hoje tem um IDH de 0,837, típico de países desenvolvidos, com uma das melhores redes de transporte de toda a América do Sul.
“Eles querem ter um país para chamar de ‘menino’; eu digo que o paraguai é maior do que a alemanha” (horacio cartes)
Esses feitos, que parecem ser coisa de países nórdicos, foram conseguidos, por incrível que pareça, pela tradição comercial paraguaia: a intensa barganha tornou-se algo maior, expandindo o setor terciário e aumentando o fluxo de capitais que entravam no país, principalmente da Rússia, do Reino Unido e do próprio Brasil. Com um setor político que não se prende a protecionismos, permitindo livre fluxo de capital privado no país para levar dinheiro onde há demanda, o que é bem importante para o desenvolvimento econômico e algo que nossos legisladores não aprenderam ainda, o Paraguai só cresce.
Muito embora ainda peque pela falta de infraestrutura, o Paraguai tem-se mostrado bem melhor do que o Brasil: seu crescimento não pára, grande parte de sua população possui alto padrão de vida, o índice de desemprego é baixo e a desigualdade tem diminuído sem interferência direta do estado. O Brasil, por outro lado, preso ao castrante Mercosul, cheio de burocracias, corporativismos e “diretrizes econômicas governamentais” – o famigerado corporativismo – continua preso ao estatismo populista cujos frutos todos nós conhecemos: corrupção, crise e regresso.
O suado empate da seleção brasileira com a seleção paraguaia mostrou bem como nem no futebol, nossa maior tradição, estamos sendo capazes de segurar as pontas. Todo dia é um 7×1 diferente. Quem sabe aprendamos algo com isso – não só pelo bem da nossa seleção, mas pelo bem do país.