Na manhã de 19 de maio de 2016, a Universidade Federal de São Carlos acordou atônita com os acontecimentos: milicianos contra o “golpe” trancaram alguns prédios da universidade (conhecidos pela sigla AT – Aulas Teóricas) com correntes e cadeados, impedindo a entrada de alunos e professores, cancelando várias avaliações marcadas e desrespeitando todos aqueles que passaram várias madrugadas a fio se preparando. No dia anterior houve uma assembleia do curso de Ciências Sociais sobre o tema mais discutido pela esquerda em todo o país, o “golpe”. Nessa assembleia, dois alunos de posicionamento diverso foram assediados moralmente por muitos presentes e algumas pessoas prontamente defenderam a expulsão destes dois alunos da assembleia de seu próprio curso, mostrando o caráter “democrático” da reunião. A assembleia do curso de Ciências Sociais deliberou a paralisação, definindo os acontecimentos do dia 19 de Maio.
Os prédios de ATs foram trancados com correntes logo pela manhã, deixando surpresos muitos daqueles que acordaram cedo para suas respectivas aulas. O sentimento de raiva, indignação e incredulidade começou a surgir no grupo digital de discussões da universidade. Nas mídias sociais, ânimos exaltados tanto por parte de quem defendia o fechamento dos prédios quanto de quem queria ter aulas, com muitos desejando quebrar correntes e cadeados que separavam os alunos de suas aulas.
Assim como para as fraudes da presidente afastada usavam o termo “pedaladas”, a assembleia do curso de Ciências Sociais se tornou assembleia “geral” (na visão de muitos apoiadores da greve), onde 400 pessoas presentes nessa reunião muito “democrática” decidiram a vida de quase 10 mil pessoas que fazem parte da comunidade universitária. Após manifestações contrárias, a versão de assembleia geral foi desmentida e surgiram outros argumentos, como o que justificava o fechamento dos prédios como uma forma de chamar o debate político. Ou seja, utilizaram de meios ilícitos para impor uma pretensa moral que a esquerda considera nobre.
A democracia defendida pela esquerda é aquela onde entes iluminados da intelligentsia comandam todos os seres considerados incapazes de participar de seu grupinho, pois essas pessoas são a “maioria incompetente”. Como vi em um cartaz da própria manifestação da UFSCar: “Luto pela Democracia” após matar a democracia quando um pequeno grupo de funcionários e alunos de Ciências Sociais decidiram o destino de muitos sem consultá-los, em nome de uma luta por “democracia” nas mãos de poucos, por uma “democracia” de unanimidades, por uma opinião única e indivisível que eles insistem em chamar de “pluralidade”, mas que qualquer um pode identificar como autocracia. Aos que discordarem, cabe aceitar ou correr o risco de ir para os guetos ou gulags, como sonham estes “democratas”.