Adultos e crianças disputam espaço com cães sarnentos no depósito de lixo de Coche, no sul de Caracas, em busca de alimentos vencidos ou estragados. Revirar detritos toda vez que uma lata de lixo é descartada começa a se tornar uma cena comum na devastada Venezuela.
A poucos metros, crianças em uniforme escolar sorriem ao encontrar uma sacola com o que parecia ser ração animal. “É para cachorro, mas serve para nós”, diz uma delas. “Estamos morrendo de fome, diga ao mundo todo”, grita uma senhora para a equipe da Folha de São Paulo. Não há estatísticas, mas todo comerciante entrevistado afirma que há cada vez mais pessoas esperando o fim da feira para buscar comida. O feirante de Coche, Igor Perez, afirma “eu mesmo já tive de catar tomates no lixo, mas fiz isso em outro mercado, para que ninguém me reconhecesse”.
Os alimentos com preço regulado, graças a política de controle central do regime socialista, já sumiram das prateleiras. Um quilo de carne vale, pelo menos, 5.000 bolívares (US$ 5 na cotação paralela), ou um quarto do salário mínimo. Uma maçã vale 1.000 bolívares.
A Venezuela é o país com a maior reserva de petróleo do mundo, mas após dez anos de severas intervenções estatais na economia, como expropriações de empresas e o controle de preços e câmbio, teve uma queda no PIB de 10% e inflação de 275% apenas no ano de 2015.
Na feira, o desempregado Luis Losada exibiu à reportagem um pedaço de plástico com restos de batata e mandioca “sou formado em administração, já tive emprego, mas hoje reviro lixo para alimentar minha família.” Este é o resultado de uma década do socialismo “del siglo XXI”.