Luiz Carlos Bresser-Pereira, um nacional-desenvolvimentista que teve a proeza de criar um plano econômico em 1987 que congelou preços, salários e câmbio por 90 dias, levando a inflação a incríveis 10% ao mês, disse em sua página no Facebook hoje que Marilena Chauí está parcialmente certa em atacar a Lava Jato, cujo principal resultado seria “tornar o Brasil ainda mais ocupado pelas exportações, os financiamentos, e os investimentos diretos dos países ricos.”
Na cabeça de Bresser-Pereira, “o objetivo do Ocidente é a ocupação do mercado interno dos países em desenvolvimento” (ignorando que o principal parceiro comercial atualmente do Brasil é a China, que não está no Ocidente) e para isso esse “Ocidente” utilizaria investimentos de multinacionais que “implicam apenas apreciação cambial, aumento do consumo no curto prazo, e um grande custo para os brasileiros no médio prazo” (ignorando que os países mais desenvolvidos do mundo têm taxas de investimento externos muito superiores ao Brasil, um dos países mais protecionistas do mundo).
Para Bresser-Pereira, o combate à corrupção promovido pela Lava Jato causa “desorganização da produção, redução do PIB e desnacionalização”. Ou seja: para o “desenvolvimentista”, é melhor que a corrupção seja mantida nas empresas estatais e em suas empresas corporativistas aliadas para que o “Ocidente” não “invada” o Brasil com seus produtos mais baratos e melhores justamente por terem que concorrer com produtos em todo o mundo. Não basta apenas a proteção econômica para privilegiar grandes empresários enquanto se prejudica milhões de brasileiros, agora precisamos de proteção para a corrupção deles também.
Segue abaixo o texto completo de Bresser-Pereira, disponível em sua página no Facebook:
“Para minha amiga Marilena Chauí, a operação Lava Jato não tem como principal objetivo o combate à corrupção, mas a entrega do Pré-sal às seis grandes multinacionais do petróleo. Talvez ela exagere, mas tem muita razão. A meu ver, os dois objetivos estão presentes na operação, o primeiro de forma consciente, como legitimação, o segundo, de maneira relativamente inconsciente, como resultado da hegemonia ideológica que o Império ou o Ocidente exerce sobre as classes médias liberal-conservadoras brasileiras.
Mas não tenhamos dúvida. Independentemente dos objetivos visados, o principal resultado da Lava-Jato não será um Brasil menos corrupto, mas tornar o Brasil ainda mais ocupado pelas exportações, os financiamentos, e os investimentos diretos dos países ricos.
O objetivo do Ocidente é a ocupação do mercado interno dos países em desenvolvimento como o Brasil da maneira ainda mais completa do que já é. O instrumento são suas empresas multinacionais. Seus investimentos e financiamentos são vistos por nós como um grande “bem”, mas, na verdade, implicam apenas apreciação cambial, aumento do consumo no curto prazo, e um grande custo para os brasileiros no médio prazo – condenados à dependência e ao baixo crescimento.
Para ocupar nosso mercado interno o Ocidente se aproveita da criminosa ação de empresários, lobistas e políticos que enfraqueceu a Petrobrás e as grandes empresas construtoras brasileiras – uma das poucas áreas nas quais o capital nacional ainda é dominante.
Sim, a operação Lava-Jato contribui para o combate à corrupção, mas o faz através do abuso de direito (algo que não estou discutindo nesta nota, mas é bem sabido), e seu custo para o Brasil, no plano político, em termos de violência contra os direitos individuais, e, no plano econômico, em termos de desorganização da produção, redução do PIB e desnacionalização é muito maior do que esse benefício.”