Por que defender a PEC 241 é ser contra o “capital financeiro” e os “rentistas”

Mais uma vez, o debate ideológico-partidário prevalece sobre o bom senso e a realidade do nosso país. Em uma das discussões mais importantes em relação à situação econômica brasileira, a propaganda política e mentirosa ganha espaço pela conquista de corações e mentes a princípio bem-intencionadas, mas que podem levar ao mais indesejável caos. E essa enorme polêmica gira em torno da PEC 241, a Proposta de Emenda à Constituição que estabelece um teto aos gastos do estado.

Em termos gerais, a PEC 241 trata-se de um novo regime fiscal que tenta dar um primeiro passo rumo ao controle das gastanças do estado brasileiro. Assim, a partir de agora, o governo só poderá aumentar seus gastos na proporção da inflação do ano anterior. Com isso, a equipe econômica de Michel Temer tentará começar a conter o avanço da dívida pública brasileira sem a necessidade de aumentar a arrecadação por meio de mais impostos.

Naturalmente, como tudo em política, a PEC 241 já encontrou inimigos e opositores. Segundo setores da sociedade ligados ao PT, PSOL, PCdoB e demais partidos de esquerda, a proposta é um atentado contra os “direitos sociais” do cidadão brasileiro e uma manobra do “grande capital financeiro” e dos “rentistas” para que o pagamento dos juros da dívida pública não seja ameaçado. Mas isso, na verdade, não passa de uma mera falácia.

Para quem não está muito habituado com jargões, o “rentismo” é um modo de se lucrar através de aplicações financeiras. E, no Brasil, ele é ainda melhor: nossos títulos públicos pagam 14,25% ao ano. Em termos reais, descontando a inflação, esse percentual cai para 5%, mas ainda continua a ser uma das maiores taxas de juros do mundo. Não há, portanto, motivo para investir em capital produtivo e internalizar riscos se é muito mais fácil e menos arriscado comprar um título da dívida pública e ter rendimento real de 5%.

E também é verdade, sim, que o “rentismo” realoca capital que poderia ser investido em fábricas e iniciativas do setor privado para financiar atividades não produtivas (o governo), obtendo o retorno do pagamento de títulos públicos. Mas a questão não é tão simples como pensa Luciana Genro e boa parte da esquerda que quer combater os “rentistas” com o calote da dívida pública ou a redução da taxa de juros na marra. Precisamos, antes de mais nada, entender como surge o capital “rentista”.

O Brasil não é um país para amadores. Nossa celebrada Constituição de 1988, por exemplo, é uma bomba relógio para as gastanças governamentais. O estado brasileiro é perdulário: gasta mais do que pode arrecadar por sua intrínseca natureza. E, ainda por cima, o Brasil é um país que teve o azar de ter sua política econômica influenciada pela ideologia – e não pelo realismo – nos últimos anos. Resultado: nossa dívida pública passou de 51,7% do PIB, em 2013, para 67,5% do PIB em abril de 2016. Nossa carga tributária ronda os 33% do PIB, enquanto os gastos estatais totalizam algo em torno de 40%. O estado brasileiro é insustentável e, no longo prazo, beira a falência.

Mas como a PEC 241 pode combater o “rentismo”?

A taxa neutra de juros no Brasil é naturalmente alta porque os nossos gastos são maiores do que nossas receitas, o que é bastante arriscado. Se a dívida pública brasileira cresce, o governo não consegue tomar dinheiro emprestado para cobrir suas despesas (ou o pagamento dos juros da dívida) pagando a mesma taxa: é preciso aumentar os juros para compensar o aumento de risco. O governo Lula conseguiu ter taxas de juros mais baixas porque praticou uma boa política de superávit: a arrecadação era maior do que a despesa. Mas Dilma e sua equipe econômica meteram os pés pelas mãos e quiseram reduzir os juros na marra. Consequência lógica: inflação disparou. Por isso, para reduzir os juros e combater o “rentismo”, precisamos controlar o gasto público. E, para controlar o gasto público, precisamos da PEC 241.

A PEC 241, conhecida como “PEC do Teto”, busca controlar a irresponsabilidade e a gastança do governo. Com a sua aprovação, os gastos públicos só poderão crescer na proporção da inflação do ano anterior, evitando rombos e déficits como os que estamos tendo. E, ao contrário do que dizem, gastos com saúde e educação não serão congelados: o que existe é um limite para os gastos totais do governo. Assim, caberá ao Congresso Nacional discutir a realocação de verbas em orçamentos futuros.

Para ilustrar o quadro, o gráfico abaixo evidencia a relação do montante a ser pago em juros conforme o tempo passa. E fica claro que, sem a aprovação da PEC 241, em 2026, nós precisaremos pagar R$ 400 bilhões a mais para o “capital rentista”. Afinal, o cenário atual é de crescimento explosivo da dívida, o que, sem iniciativas para frear o descontrole, tende apenas a aumentar a taxa de juros. Com mais gastos, mais endividamento e com uma taxa de juros crescente, a gastança governamental pode acabar escravizando o orçamento ao pagamento de juros.

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Talvez uma questão que não tenha ficado clara para muitos dos opositores à PEC é que o endividamento presente para cobrir gastos maiores que a arrecadação nada mais é do que condenar gerações futuras a ter muito menos verba para educação e saúde daqui 20 ou 30 anos. Dar calote e não pagar a dívida pública também não é uma opção, até porque boa parte da dívida ampara-se no crédito de fundos de pensão de brasileiros e cidadãos comuns, e não grandes banqueiros ou credores internacionais.

Em tempos de crise, as famílias cortam o gasto supérfluo e tentam evitar ao máximo a contração de dívidas para não se submeter à cobrança de altas taxas de juros. A prioridade é conseguir igualar as despesas com as receitas, sem produzir rombos. E, guardadas as devidas proporções, a dinâmica é a mesma para o governo.

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