Quanto mais totalitária for uma sociedade, quanto mais se impõem limites à liberdade dos indivíduos, mais difícil será tornar visível sua verdadeira essência – a realidade social é distorcida a tal ponto, que até os próprios indivíduos terminam, inevitavelmente, aceitando-a como se fosse verdadeira. Este é o caso de Cuba, lugar em que os donos da “liberdade” encarregam-se de vender uma realidade viciada, uma história distorcida magistralmente.
Pretendo aqui mostrar a outra cara da realidade vivida pelo povo cubano, destacando, concretamente, nossa atual situação alimentar.
Não foi por mera questão de gosto que o psicólogo norte-americano Abraham Maslow, na sua teoria das necessidades – também conhecida como Pirâmide de Maslow -, destacou a alimentação como uma das necessidades básicas do indivíduo. Pelo contrário, foi porque é ela que garante a manutenção das funções corporais que fazem a vida ser possível.
Essa necessidade básica é hoje o principal problema na vida da maioria dos habitantes de meu país. O cubano de hoje vive 24 horas do dia pensando no que irá comer. Estou falando, em muitos casos, de apenas uma refeição diária, incluindo-se aqui as crianças. E não poderia ser de outra forma.
Mensalmente, o Estado garante para cada pessoa, a baixo custo, por meio da caderneta de racionamento, os seguintes itens: 2,25kg de arroz, 450g de feijão, 225ml de óleo de cozinha, 1,8 kg de açúcar e 675g de frango. Quanto tempo podem durar essas quantidades? Convido-os a fazer as contas.
Suponhamos que, alimentando-nos uma vez ao dia, estas provisões possam nos manter pelos primeiros dez dias do mês. E os 20 restantes? Pois é aí que começa a agonia dos cubanos.
Tomemos como exemplo uma pessoa com média salarial alta: $300,00 CUP (pesos cubanos não convertíveis, a moeda utilizada para os salários) por mês. Pois bem, teria, então, que comprar os escassos produtos disponíveis em mercados estatais, com preços como: 450g de arroz ($5), 450g de feijão ($10), 450ml de óleo de cozinha ($60), 450g de açúcar ($5) e 450g de frango ($75), em média. Quando é possível, pode-se encontrar produtos no mercado negro como 450 ml de óleo de cozinha por $25 pesos e 450g de frango por $25 pesos. Caso contrário, o que é mais comum, deve-se recorrer aos mercados estatais, nos quais se praticam, em média, os preços especificados.
Assim, para nos alimentarmos minimamente, apenas uma vez ao dia, durante os demais 20 dias do mês, teríamos que adquirir: 4,5kg de arroz ($50); 900g de feijão ($20), 450ml de óleo de cozinha ($60); 3,6kg de açúcar ($40) e reduzir o frango para o mínimo, 450g por exemplo ($75).
Quer dizer que, para mal alimentar uma pessoa, uma vez no dia e durante um mês, são necessários $245.00, de um salário mensal alto de $300.00, restando $55.00 para transporte, vestimenta, medicamentos, pagar a taxa sindical, o dia da defesa (1), os Comitês de Defesa da Revolução (CDR), a água, a luz, o telefone, (para as mulheres) a federação de mulheres, etc.
E se temos filhos pequenos? Que loucura! Como é possível viver desta forma?
Os cubanos, em sua grande maioria, precisam cometer delitos todos os dias para sua subsistência. Pedreiros, médicos, farmacêuticos, açougueiros, balconistas, fiscais, dirigentes, militantes do partido, caminhoneiros, professores, absolutamente todos precisam fazê-lo, e não porque querem, mas porque não resta outra opção.
Os governantes sabem disso, mas se fazem de desentendidos para evitar uma explosão social. Somente quando a corrupção periga manchar a “imagem” da “revolução” é que fazem grandes operações policiais e julgamentos em nome do povo, culpando os incriminados pelas penúrias e necessidades pelas quais o povo passa. O vídeo abaixo mostra a situação real de uma cadeia cubana (e não a do “tour” que o governo faz com repórteres de tempos em tempos):
Sendo assim, as cadeias cubanas encontram-se abarrotadas de seres que sofrem condenações injustas e forjadas, além de jovens, pais e mães, filhos e filhas, a maioria da grande parcela humilde da população, que praticaram delitos por uma necessidade imposta pelo seu próprio governo. Governo este que, por sua vez, os culpa e castiga pelo simples fato de tratarem de garantir sua subsistências.
No fundo, dentro de cada cubano, no coração de cada indivíduo desse país, habita uma fome ainda maior: uma gigantesca e irresistível fome de liberdade.