Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi um dos grandes artífices da social-democracia brasileira. Coisas como justiça social, teoria da dominação, estado democrático de direito, função social da propriedade, agências reguladoras, semi-privatizações, substituição tributária e outros clichês do perverso pensamento coletivista estatista nacional têm de forma indelével as digitais do ex-presidente e ex-acadêmico de Sorbonne.
Em nota lançada essa semana, FHC conseguiu resumir, em um parágrafo, a nefasta ética relativista que caracteriza aqueles que não tem apreço pelo que é verdadeiro e pelo que é certo:
“No importante debate travado pelo país distinções precisam ser feitas. Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção.”
Para gente com a mentalidade dele, a verdade e o certo dependem das circunstâncias, das conveniências, da ocasião.
Ao distinguir o ganho para fins pessoais do ganho para fins coletivos, dando a esse um caráter de nobreza inexistente, como se mentir, roubar e trapacear se justificassem por conta do fim para o qual o produto do roubo se destina, FHC mostra o asco que tem pelo indivíduo, pelo que é direito, pelo que é justo.
Corromper a República transformando-a numa associação de mentirosos, trapaceiros e ladrões que se sentem à vontade ao lidar com uma política aética e conviver entre políticos tão amorais quanto ele é muito mais grave do que o ganho ilícito praticado por um ou mais indivíduos para enriquecimento próprio, cuja degradação fica constrita a eles.
Além do mais, é um descaramento imaginar que roubar para o partido não propicia ganho pessoal indevido para o político. Além de amorais, são prepotentes e presunçosos ao imaginar que a população aceitará essa duplicidade de pesos e medidas e essa cara-de-pau que somente políticos tão experimentados quanto FHC têm a ousadia de portar.
Ao dizer que roubo para o partido não é crime, FHC justificou porque foi tão condescendente com Lula no Mensalão. Ninguém pode condenar o outro por práticas que ele mesmo acha legítimas.
Não sairemos desse ciclo vicioso sem rupturas. Essa insolência, essa impunidade, tem que ter um fim e não será com discussões amenas recheadas de retórica ideológica que essa dinâmica se encerrará.
Se a justiça não começar a apontar as armas para os grandes bandidos que posam como impolutos, porém não passam de membros de uma máfia institucionalizada pelas leis do país, teremos que, mais cedo ou mais tarde, colocar esse pessoal para correr.