A entrevista de Danilo Gentili com Jair Bolsonaro foi um espetáculo. Não do entrevistado, que é absurdamente fraco, mas do entrevistador. Perguntas pertinentes que nenhum outro membro da grande mídia havia feito e que permitiram que o deputado-candidato falasse mais sobre outros temas que não fossem “kit gay”, “Jean Wyllys” e “Maria do Rosário”. Transcrevo algumas abaixo:
Como presidente, você acha que o seu repertório tem que aumentar, tem que falar sobre economia?
“Eu falo sobre economia, por exemplo, eu falo do nióbio, do grafeno, das riquezas do Vale do Ribeira. (…) Mais utilizado do que o nióbio só o grafeno. (…) Nós não podemos continuar permitindo uma exploração predatória do nióbio”.
E a respeito dos outros assuntos, as pessoas vão te cobrar soluções para economia, emprego, saúde…
“Muita coisa está ligada à violência (…) Vivendo num país inseguro como o nosso, você não tem turismo. (…) Precisamos dar um cavalo de pau na política de direitos humanos. (…) Precisamos acabar com o estatuto do desarmamento.”
A gente está num momento em que o Brasil precisa de alguém que entenda de economia, de mercado, para tirar o Brasil disso. Você entende de economia?
“Não, eu entendo muito pouco de economia. (…) Eu ainda não desperto confiança no sistema financeiro, tendo em vista o meu comportamento. Mas (…) tenho certeza que esse pessoal devagar vai cerrar pra cima de mim”.
Mas você já tem um princípio de plano?
“Isso ninguém tem né”.
Então me explica, por que alguém deve votar em Bolsonaro para presidente?
“Eu sou uma pessoa autêntica. As minhas propostas podem ser até pior (sic), mas são completamente diferente (sic).”
Quando você diz em abrir o comércio, você está falando em quê exatamente?
“Você tem que diminuir o tamanho do estado.”
Eu sempre vejo você elogiando um lado bom na ditadura. Mas não foram os militares que ajudaram o estado brasileiro a ficar tão inchado?
“Era outra época. (…) Naquela época a mulher não ia de biquíni pra praia”.
O que garante que você não irá copiar alguns modelos do regime militar que você elogia?
“Na Educação vai ser convidado um general que já tenha um comando de colégio militar”.
Você tem muitos opositores, talvez uns 80, 90% de Brasília é opositor seu. Se você for presidente, como é possível governar com tanta oposição?
“Nós vamos ter mais gente de direita no parlamento. (…) E eu acho que economia vai estar tão debilitada até lá (…) que teremos que partir do zero”.
Essa é um boa visão de quem é Bolsonaro: alguém que acha que a economia vai estar ainda mais debilitada até as eleições de 2018 e que deve ser eleito porque entende muito pouco justamente de economia (não à toa, acha que a solução para o Brasil é o turismo, que responde por apenas 3,5% do PIB; e pensa que economia é falar de nióbio com “exploração predatória” e grafeno), mas é “autêntico”. E sem plano: o negócio é torcer para a “direita” eleger 250 deputados a fim de que consiga governar.
E ainda diz que a ditadura não fez nada de mais em ampliar enormemente o tamanho do estado brasileiro porque era “outra época”, mesmo dizendo, obviamente da boca pra fora – dado que nunca atuou nesse sentido no parlamento – que quer “reduzir o tamanho do estado”.
É um piada.
A entrevista completa pode ser conferida abaixo: