Há pouco mais de duas semanas, Joaquim Barbosa lançou sua candidatura à presidência da República. Durante cerimônia no Supremo Tribunal Federal (STF) para colocar o seu retrato na galeria de ex-presidentes da corte, Barbosa afirmou que “a decisão de me candidatar ou não está na minha esfera de deliberação.”
O ex-ministro, que se aposentou em 2014, aos 59 anos (mais de 10 anos antes do limite previsto em lei), alegando “ameaças”, subitamente descobriu que a cadeira presidencial é menos ameaçadora. As dores na coluna, que o faziam participar das sessões de julgamento da Ação Penal 470 (“Mensalão”) em pé, passaram. Tudo em nome de aplacar a dor da esquerda que pode ficar ver seu candidato principal, Lula, ser eleito presidente da cadeia; e que tem como plano C um político instável, falastrão e enrolador como Ciro Gomes. O Plano J ainda viria com a aura de “combate à corrupção” que nenhum pré-candidato canhoto pode alcançar.
A reação da esquerda foi instantânea. Admitindo ter conversado com a Rede de Marina Silva e o PSB sobre uma eventual candidatura, Joaquim foi alçado ao panteão daqueles que podem manter a mentalidade socialista no poder a partir de 2019. Cantores Rouanet, atores da Rede PSOL Globo e políticos como o ex-PSOL Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o ex-PT Alexandre Molon (Rede-RJ) se apressaram em sondar o eleitor de Dilma Rousseff sobre as suas pretensões presidenciais. Receberam um cenográfico “não” que já lançou um possível mote do “sim” que reverberou na mídia: “será que o Brasil está preparado para ter um presidente negro?”, teria dito o Plano J.
O Brasil não apenas está preparado para ter um presidente negro, como já teve – e numa façanha muito superior a que o Plano J insinua com seu vitimismo barato. Nilo Procópio Peçanha foi um fluminense negro que iniciou a sua carreira política sendo eleito para a Assembleia Constituinte em 1890, dois anos após a abolição da escravidão. Com uma carreira meteórica, em 1903 foi eleito senador e, no mesmo ano, eleito presidente (atual cargo de governador) do estado do Rio de Janeiro. Três anos depois, no dia 1° de março de 1906, era eleito vice-presidente da República na chapa do mineiro Afonso Pena.
Com a morte de Afonso Pena em 1909, o fluminense Nilo Peçanha assumiu a presidência em plena política café-com-leite (revesamento entre presidentes de Minas Gerais e São Paulo) para um mandato de 17 meses, tendo como lema “Paz e Amor” e sendo alvo constante de chacota da imprensa – a mesma que hoje torce descaradamente pelo Plano J. Durante o seu mandato foram criados o Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) e o ensino técnico no Brasil.
Ao fim do seu mandato presidencial, retornou ao Senado em 1912 e foi novamente eleito presidente do estado do Rio de Janeiro em 1914. Renunciou ao cargo em 1917 para assumir o Ministério das Relações Exteriores e em 1918 foi novamente eleito senador federal.
Já em 1921, Nilo Peçanha foi candidato à presidência da República pelo Movimento Reação Republicana, que defendia o liberalismo político contra a política das oligarquias estaduais. Mesmo apoiado por políticos dos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Bahia, e por boa parte dos militares, Nilo foi derrotado pelo candidato Artur Bernardes nas eleições de 1° de março de 1922. Artur Bernardes teve 466.877 votos contra 317.714 votos dados a Nilo Peçanha. Nilo teve apoio apenas dos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Bahia. Foi a última atuação política de Nilo, que veio a falecer em 1924, no Rio de Janeiro,
Nilo Peçanha faleceu em 1924, no Rio de Janeiro, afastado da vida política, por uma doença hoje facilmente combatida: a doença de Chagas.
Em resumo, o Brasil já teve um presidente negro e o mote de pré-campanha de Joaquim Barbosa não resiste a uma simples análise histórica. O que o Brasil não está preparado, aí sim, é para ter mais um presidente com uma mentalidade socialista que defende ainda mais estado atrapalhando a vida de seus cidadãos.