Em fevereiro de 2017, Tiffany Abreu, de 33 anos, foi a primeira “mulher trans” brasileira que conseguiu autorização da Federação Internacional de Volei (FIVB) para atuar em um time feminino. Tiffany atuava em um time da Itália, o Golem Volley, e em uma das partidas marcou 28 pontos, sendo “a” melhor “jogadora” em quadra. Agora, irá atuar na brasileira Superliga feminina de vôlei, no time de Bauru. Tiffany nasceu Rodrigo, sempre atuou em campeonatos masculinos, tem 1,94 metro de altura e “virou” Tiffany há um ano, quando atuava em um time da segunda divisão belga. Atento ao potencial de Tiffany jogando contra mulheres, o técnico da seleção brasileira de vôlei, José Roberto Guimarães, já admite que “ela” pode fazer parte do time nacional.
Em março deste ano, Laurel Hubbard, “mulher trans” de 39 anos, venceu uma competição de levantamento de peso feminino na Austrália. Laurel quebrou quatro recordes ao levantar 268 quilos, 19 quilos a mais do que a segunda colocada, na categoria para mulheres que pesam mais de 90 quilos. Oito meses depois, no Mundial de Halterofilismo, Laurel levantou 275 quilos e ganhou a medalha de prata. Laurel nasceu Gavin, competiu contra homens e chegou a bater o recorde júnior da Nova Zelândia (na categoria para atletas com mais de 105 quilos) levantando 300 quilos. Para não competir com Laurel, a melhor halterofilista neozelandesa, Tracey Lambrechs, perdeu 17 quilos a fim de competir na categoria até 90 quilos.
Em 2013, a “mulher trans” Fallon Fox lutou contra Alanah Jones por uma organização de MMA com menor expressão (CFA – Championship Fighting Alliance) e a venceu sem grandes dificuldades. A participação de Fallon Fox foi bastante criticada pelo público e por outras atletas do MMA como Ronda Rousey, Miesha Tate e a brasileira Bethe Correia. Para Ronda – que se negou a lutar contra Fallon – a “mulher trans” possuía uma vantagem injusta sobre as mulheres. O presidente do UFC (Ultimate Fighting Championship, principal organização de MMA), Dana White, concordou com Ronda: “A estrutura óssea é diferente, as mãos são maiores, a mandíbula é maior, tudo é maior. (…) Eu não acredito que alguém que ‘era um homem’ deveria lutar contra uma mulher”.
O assunto é alvo de debates inclusive entre as vertentes do próprio movimento feminista. Feministas “transativistas” chamam suas oponentes de “feministas radicais trans excludentes” e “transfóbicas”, chegando ao ponto de classificar como “transfobia” a afirmação “as verdadeiras mulheres menstruam” porque exclui “mulheres trans”. Por outro lado, feministas que consideram que as “mulheres trans” continuam sendo homens – com base na anatomia e na biologia – acusam as “transativistas” de colocar “sentimentos de gênero de homens abusivos” acima das reais mulheres permitindo que ocupem “espaços exclusivos para mulheres” como um verdadeiro “Cavalo de Troia”.
A briga entre feministas por causa das “mulheres trans” chegou às páginas dos jornais quando feministas picharam o banheiro feminino da UNICAMP com frases destinadas como “não deixe que os machos invadam nossos espaços”, “ser mulher não é calçar nossos sapatos” e “vou cortar sua pica”. Os argumentos das feministas continuaram online: “mulheres trans são estupradores em potencial porque têm pinto” foi um dos principais.
Independente dos argumentos sobre a “ideologia de gênero”, visto que não falamos de construções sociais mas de fatores puramente biológicos e genéticos, é justo que indivíduos que continuam sendo biologicamente homens disputem torneios e competições contra mulheres? Mesmo com tratamento de reposição hormonal para diminuir o nível de testosterona, Tiffany Abreu se destaca, Laurel Hubbard quebrou recordes e Fallon Fox tem uma carreira de vitórias no octógono. Dana White e Ronda Rousey parecem estar certos quando afirmam que há vantagens biológicas das “mulheres trans” sobre as mulheres.
Pelo visto nos próximos anos veremos ainda mais “mulheres trans” quebrando recordes, ganhando espaços em torneios internacionais femininos e ocupando o lugar originalmente destinado àquelas nascidas mulheres. É justo? Levando em conta as evidências que temos, está claro que não.