Luciano Huck utilizou o Domingão do Faustão para difundir a ideia de que “não acredita em esquerda e direita”, apenas em “pessoas de bem” e “boas ideias”.
Que lindo! Uma pessoa que apoia ideias e movimentos de esquerda, que trabalha como apresentador num canal de televisão descaradamente de esquerda e que ensaia se candidatar à Presidência da República por um partido (PSDB) de esquerda, diz que… não existe esquerda e direita!
Fazendo de conta que Luciano Huck é um ignorante qualquer, vou lhe dar algumas informações.
As coisas têm nomes. Uma faca é uma faca. Uma faca não é garfo ou colher. Facas servem para umas coisas. Garfos e colheres para outras. Por isso têm nomes diferentes. Cada doença tem seu próprio nome simplesmente porque cada uma tem causa e efeitos próprios.
As pessoas têm nomes. Elas são registradas com nomes diferentes para identificar a origem parental e para cada uma delas ser reconhecida de forma distinta na sociedade, afinal, elas são diferentes umas das outras.
Ideias também têm nomes. O nazismo alemão, o fascismo italiano e o socialismo soviético, chinês, cubano e norte coreano compartilharam as mesmas ideias de concentração de poder no estado e de combate aos direitos individuais, porém, ganharam nomes diferentes porque tiveram justificativas e procedimentos distintos.
Esquerda, direita, liberais e libertários são coisas diferentes e assim devem ser vistos.
A esquerda defende que o estado deve criar uma “nova sociedade” oferecendo um imenso leque de serviços públicos, controlando a economia, a imprensa, a educação e a cultura, dividindo a sociedade em classes e colocando os direitos individuais subordinados aos direitos coletivos.
A direita defende que o estado deve prover serviços básicos como saúde, educação e segurança sem intervir na vida privada, porém, atuando na preservação das tradições culturais e religiosas de um país.
Temos ainda os liberais, que defendem que o estado se restrinja à garantia da liberdade, da propriedade e da paz das pessoas. Para um liberal, cultura e religião – tampouco a sexualidade e a cor da pele das pessoas − não são assuntos a serem tratados pelo governo.
Libertários defendem a extinção do estado.
Sendo assim, estão alinhadas à esquerda todas as pessoas que defendem qualquer nível de intervenção estatal na vida privada – da proibição do porte de arma à patrocínios culturais, passando por programas sociais e econômicos.
Sim! É isso mesmo que você concluiu: todos os partidos atualmente com representação no Congresso são, na prática, partidos de esquerda. Sem exceção. Todos apoiam projetos que concentram poder no estado em prejuízo da autonomia individual. Todos defendem a principal ideia da esquerda: a de que o estado deve promover a justiça social.
Portanto, vivemos num país onde predominam as ideias de esquerda e é isto – nada além disto – que nos impede de ser uma sociedade melhor.
Luciano Huck disse: “não importa se é de direita ou de esquerda, não acredito mais nisso”. A intenção dessa frase, típica dos “isentões” do Facebook e da GloboNews, é a mesma de Fidel Castro à época em que buscava apoio americano para tomar o poder em Cuba. Castro não se dizia comunista. Ele se apresentava apenas como uma pessoa de bem que queria levar democracia e justiça social para os cubanos. O mundo, incluindo o governo americano, acreditou. Então, Fidel Castro tomou o poder e deu início a maior onda de violência de um governo contra seu próprio povo no continente americano, promovendo dezenas de milhares de prisões e assassinatos para implantar a ditadura socialista que vigora até hoje.
Lula construiu carreira política defendendo invasões de terra, estatização dos meios de produção, escolas e bancos, deixando bem claro que ele representava a esquerda. Foi assim que conquistou o apoio de sindicalistas, artistas e intelectuais. Para conquistar as massas, ele precisou mudar o discurso. Assim como Luciano Huck e qualquer “isentão” de nossos dias, Lula, em 2002, passou a rejeitar a “polarização esquerda/direita/liberais” dizendo que o importante é ter no governo “pessoas de bem com boas ideias” – como ele, claro.
Mas, afinal, o que a esquerda quer com isso?
Ela quer evitar ser alvo de uma análise ideológica e histórica, evitar que pessoas comuns correlacionem as ideias defendidas pela esquerda brasileira com as ideias implementadas no Leste da Europa, na China, na Coreia do Norte, em Cuba e na Venezuela. Quer evitar que as ideias de esquerda sejam correlacionadas ao petismo que afundou o Brasil na maior crise econômica e nos maiores escândalos de corrupção de sua história.
Retirando a identidade e a história das ideias, a esquerda dá a elas apenas um pai em determinado momento eleitoral. A “pessoa do bem” que pode salvar o Brasil. A promoção da “justiça social” por meio de programas econômicos e regulação do mercado deixa de ser a mesma ideia que levou tantos países à miséria e passa a ser apenas uma “boa ideia” que terá como pai alguém do PT, PSDB ou PSOL.
Poucos votariam num candidato declaradamente socialista, mas muitos ainda declaram a intenção de votar em Lula, aquele que governou em função de movimentos, partidos e ditaduras socialistas.
Se for difícil entender isso, faça um simples teste: pergunte ao seu amigo “isentão” como ele identifica uma pessoa que defende apenas algumas ideias do regime nazista de Hitler. “Nazista”, ele responderá. Depois, pergunte como ele identifica uma pessoa que defende apenas algumas ideias comunistas. Ele dirá tudo, menos que essa pessoa é comunista.
Quem se esforça em dizer que “não importa se é de esquerda ou de direita, mas se as pessoas e as ideias são boas” faz parte da estratégia da esquerda de ganhar o voto de todos, da esquerda, da direita e até de liberais inocentes.
É cretino o argumento de que é possível defender “algumas” ideias da esquerda e outras da direita ou liberais. As pessoas que dizem que o que importa são as pessoas e as ideias, não onde elas se encontram no espectro ideológico, não conseguem elogiar uma única ideia conservadora ou liberal. Não conseguem dizer que Cuba é uma ditadura e que o socialismo destruiu a Venezuela. Não conseguem sequer dizer que Lula deveria estar preso.
Luciano Huck é apenas mais um nome da esquerda em favor dela mesma. Mesmo que não se candidate a presidente, ele utilizará sua influência sobre as massas em favor do candidato que representa ideias socialistas, assim como faz a grande maioria dos artistas, jornalistas, “intelectuais” e, claro, do nosso colega “isentão”.
Luciano Huck é a Globo. A Globo é o megafone do socialismo brasileiro.