Prevendo uma matéria da Folha sobre a sua casa em Angra dos Reis, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) acabou admitindo, sem querer, que utiliza recursos da Câmara dos Deputados – ou seja, dos pagadores de impostos brasileiros – para pagar uma funcionária fantasma que “atende gente” na casa dele em Angra dos Reis e “presta um serviço humilde de assessoria” na região.
De acordo com a matéria no site do jornal, Walderice Santos da Conceição figura desde 2003 como uma das 14 funcionárias do gabinete parlamentar de Jair Bolsonaro, em Brasília, recebendo R$ 1.351,46 brutos mais auxílios de R$ 982,29. A informação também pode ser confirmada diretamente pelo site da Câmara dos Deputados como fez o ILISP:
Ainda de acordo com a matéria, Edenilson, marido de Walderice, presta serviços de caseiro para Bolsonaro enquanto a esposa trabalha no “Wal Açaí”, na mesma rua. A funcionária do deputado foi vista pelos jornalistas saindo da casa de Bolsonaro, que se encontrava no local e não soube exemplificar quais os serviços parlamentares prestados por Walderice: “Ela fala com o chefe de gabinete”, se limitou a dizer o deputado.
Dois posts nas redes sociais feitos por Bolsonaro e seu filho, Eduardo Bolsonaro, sem querer deram razão à matéria da Folha. Eduardo confirmou que a mulher “ganha R$ 1.300” (da verba da Câmara) e “tem loja de açaí para complementar renda”. A mensagem foi apagada depois de alguns minutos, mas recuperada pelo ILISP.
Jair Bolsonaro, por outro lado, fez um vídeo – antes da matéria ir ao ar – falando sobre a sua “mansão” em Angra dos Reis para rebater a matéria do jornal que viria. O texto, entretanto, em nenhum momento chamou o imóvel de mansão, focando na funcionária fantasma empregada por Bolsonaro. Em uma parte do vídeo, Bolsonaro admite que a senhora é “empregada há 12, 13 anos com ele” tendo um “básico de 1300 reais” para “atender gente aqui” (na casa em Angra) e “prestar um serviço humilde de assessoria”. O homem ao lado dele no vídeo é Edenilson, marido de Walderice:
O @jairbolsonaro admitiu hoje que paga a funcionária fantasma com dinheiro da Câmara – ou seja, dos pagadores de impostos – para "atender gente" na casa dele e "prestar um serviço humilde de assessoria" na região. O homem ao lado dele é o marido da funcionária. pic.twitter.com/3lmihBWnfn
— ILISP (@Ilisp_org) January 11, 2018
Se a denúncia for confirmada, Jair Bolsonaro pode ser condenado pela Justiça por crime de peculato como ocorreu recentemente com Celso Russomanno (PRB-SP) em um caso similar, tendo sido posteriormente absolvido, às vésperas das eleições de 2016, por 3 votos a 2 no STF.