Enquanto vocês se preocupam com o ostracismo social sofrido por um milionário idoso, que divide sua vida entre o Leblon e Paris e utiliza sua imagem e histórico de produção cultural para apoiar ditaduras pelo mundo, o governo Dilma Rousseff se prepara para se safar do crime de fraude fiscal correspondente a quase 118 bilhões de reais.
É curiosa a comoção promovida em favor deste suposto ícone da cultura brasileira recente, quando a presidente Dilma envia uma mensagem de apoio no dia seguinte ao ato de confrontação. Para ter uma ideia da importância que este perfil de militante famoso tem para o arranjo estatal, no maior desastre ambiental ocorrido no Brasil (Mariana, MG), a presidente realizou um sobrevoo na área devastada apenas 7 dias após o ocorrido — e não desembarcou para ver os estragos de perto.
A sucinta lição do economista e historiador político Murray Rothbard, contida no artigo “A anatomia do estado“, descreve com clareza a dependência que o estado e seus governos tem destes “formadores de opinião”:
“Para produzir esta aceitação crucial, a maioria tem de ser persuadida por uma ideologia de que o seu governo é bom, sábio e, pelo menos, inevitável e certamente melhor do que outras possíveis alternativas. A promoção desta ideologia entre o povo é a tarefa social vital dos ‘intelectuais’.”
Logo, que vantagem o estado traz para estes indivíduos que já têm as massas que os seguem, aparentemente consomem o resultado dos seus trabalhos, os defendem e idolatram (apesar destes mesmos “formadores de opinião” não terem o menor receio de tripudiar a audiência)?
“É evidente que o estado precisa de intelectuais; mas não é algo tão evidente por que os intelectuais precisam do estado. Posto de forma simples, podemos afirmar que o sustento do intelectual no livre mercado nunca é algo garantido, pois o intelectual tem de depender dos valores e das escolhas das massas dos seus concidadãos, e é uma característica indelével das massas o fato de serem geralmente desinteressadas de assuntos intelectuais. O estado, por outro lado, está disposto a oferecer aos intelectuais um nicho seguro e permanente no seio do aparato estatal; e, consequentemente, um rendimento certo e um arsenal de prestígios. E os intelectuais serão generosamente recompensados pela importante função que executam para os governantes do estado, grupo ao qual eles agora pertencem.”
Ao contrário do que o pretenso playboy boêmio disse, cada vez mais pessoas têm acesso à informação além de revistas — que invariavelmente se enquadram na descrição do parágrafo anterior de “intelectuais” e seus meios de expressão, financiados com dinheiro de pagadores de impostos desviados legalmente pelo governo para Veja, Carta Capital etc –, como os veículos de comunicação independente, incluindo este em que o texto está publicado, graças às tecnologias que constituem a Internet.
Podemos aproveitar o confronto que Chico Buarque teve com os jovens indignados para reafirmar de maneira clara nosso direito à desobediência civil e ao ostracismo social, em oposição a figuras como o senador Acir Gurgacz (PDT-RO), que, como relator (uma espécie de fiscal), contrariou uma decisão unânime do Tribunal de Contas da União, apresentando um parecer de aprovação das contas fraudadas da gestão petista.
Na próxima vez que encontrarem Chico, além de usar o recurso catártico que é o xingamento, vale a pena questioná-lo sobre a natureza da relação que ele tem com um governo que está condenado moralmente por boa parte da população brasileira.
Será que ele tem coragem de dizer que há alguma ideologia na sua defesa deste partido e deste governo?, levando-se em conta que:
* Ana Hollanda (irmã) foi ministra da cultura (MinC) do governo Dilma de 2010 a 2012;
* Bebel Gilberto (sobrinha) recebeu R$ 1,9 milhão de incentivos da lei Rouanet;
* Thaís Gulin (namorada) recebeu R$ 800 mil através da mesma lei Rouanet;
* Carlinhos Brown (genro) recebeu R$ 996 mil via lei Rouanet;
* O filme baseado no livro Leite Derramado foi autorizado a captar R$ 10 milhões da Ancine. O diretor será Lula Buarque (irmão);
* O filme Chico: Artista Brasileiro, teve captação de R$ 3,6 milhões via Lei Rouanet e Ancine;
* Traduções (para línguas como francês e coreano) do livro Leite Derramado, foram financiadas pelo Fundo Nacional da Cultura, durante a gestão da irmã no ministério.