Nesses tempos de patrulhas do pensamento e de militâncias ideológicas, pensar está cada vez mais difícil. Sim, pensar: o pensamento exige um exercício ativo de apreensão, compreensão e intercâmbio de idéias, interiores e exteriores ao indivíduo. Parece que quanto menos se pensa, melhor; não só para ter serragem no lugar do cérebro, o que é extremamente confortável para a maioria, mas para também ser reconhecido como um grande entusiasta da coletividade e da justiça social.
A democracia “burguesa” não para: precisamos promover a igualdade, erradicar os preconceitos da face da Terra, diminuir a distância entre ricos e pobres; tudo isso, evidentemente, intermediado pelo cândido e probo governo, o portador de todas as virtudes, de todos os poderes e de todas as burocracias possíveis do universo. É ele que, com seus engomados e muito bem-pagos burocratas irá dar um pouco de dignidade aos miseráveis, atenuando sua miséria. E eu acabo de descobrir que a miséria é um grau, não uma condição. Vivendo e aprendendo.
Paralelo a isso, eis que vem a mim o produto final da digestão dos que pensam com o intestino: a propaganda da Pepsi, na qual os dois limões dizem, em tom de crítica, que “o mundo está chato”, é acusada de “desmerecer as ações das minorias”. Perceba, leitor, que um gay, um negro ou um pobre pode ficar irritado se você julgá-lo pela sua respectiva condição sexual, racial ou monetária, mas parte deles usam, ao mesmo tempo, tais condições como agenda. Afinal, é ou não é para enxergar as minorias como minorias?
Sem embargo, na onda alucinada do esquerdismo esquizofrênico – que causa mais destruição do que qualquer catástrofe – está a destruição causada pelo rompimento da barragem da Samarco em Minas. Passaram-se meses, e nada foi feito – os trâmites jurídicos estão empacados, e as famílias atingidas continuam desprovidas de simplesmente tudo. Pouco foi feito além das rarefeitas manifestações de cunho ideológico, principalmente, contra a maldita iniciativa privada que, junto da nefasta ganância capitalista, que seria a responsável por todo o desastre.
Enquanto isso, os cavaleiros da justiça social estão mais preocupados em observar – e punir – uma publicidade de teor cômico que não critica ninguém diretamente e que não faz menção nenhuma, que não fere ninguém. O limão irrita mais do que a lama – a patética representação de dois frutos cítricos conversando enquanto bebem refrigerante de cola é pior do que uma avassaladora onda de sujeira lamacenta.
A hipocrisia é a rainha absoluta. Temos negros nazistas, socialistas de iPhone, libertários captando dinheiro via Lei Rouanet e indivíduos que dizem amar a humanidade mas são incapazes de amar o próximo. E assim caminha a humanidade.