Nesses últimos dias estamos vendo por aí um aumento significativo no número de Isentões, que professam não ter nenhum partido ou ideologia, mas que não perdem a chance de atacar liberais, conservadores ou simplesmente pessoas comuns do povo, que estão legitimamente insatisfeitas com o governo petista. Jogam aqui e ali uma conversa mole de neutralidade, para em seguida vomitar a velha cantilena socialista de sempre, mas dessa vez com um verniz elitista inconfundível. O tom de superioridade com que debocham de quem se engaja politicamente contra o governo só se compara com a misericórdia leniente dos comentários que deixam para falar com ares de tecnicismo jurídico da condução coercitiva de Lula.
O cinismo é a característica fundamental do Isentão. Se falam de corrupção, ele prontamente anuncia, revoltado, que a corrupção não começou neste governo e que são todos iguais. E quem é você para falar desse ou daquele político se não menciona aquele outro? Ora, o problema é endêmico no Brasil, então se você não condena igualmente todo o sistema e todos os milhares de políticos trabalhando nas esferas estadual e municipal, então você não tem o direito de falar mal exclusivamente deste ou daquele.
Impeachment? Ué, mas se sair a Dilma entra quem? Outra característica essencial ao Isentão é que ele está “a favor do Brasil”. Isso é, se na ótica dele sua crítica ou sugestão não melhorar efetivamente a situação de todos os brasileiros, então ela é inútil e você deveria se envergonhar de sequer ter vociferado sua opinião. Enquanto isso, ficam as coisas como elas estão, já que dá tudo na mesma mesmo. O Isentão é cínico, lembre-se disso.
O terceiro traço típico do Isentão é sua admiração por bandeiras socialistas, muito embora ele jamais vá admitir uma inclinação para algum conceito político qualquer. “Esquerda e direita não existem”, ele repete como um mantra, o que não o impede de pregar o aumento do aparato estatal para uma cobertura maior e mais efetiva de “direitos sociais”, por exemplo.
Por fim, o Isentão foge do debate como o diabo foge da cruz. Ele gosta de opinar e de julgar o que os outros fazem, mas não de ser confrontado com as próprias opiniões. Ao primeiro sinal de debate, ele escapa pela tangente.
A soma desses quatro elementos pode ser vislumbrado, por exemplo, quando o Isentão diz que não apoia o Lula, mas que ele deve ser respeitado por ter feito isso e aquilo. E mesmo que seja corrupto, isso é porque todos são. Principalmente FHC, Aécio e Cunha. E se você não fala destes, não pode falar de Lula.
Estamos de olho.