Sempre que ouço um socialista defendendo a liberdade, lembro-me de todos os partidos que apoiam e também dos regimes que esses partidos defendem. Partindo de um princípio básico de coerência, creio que qualquer pessoa acharia um completo absurdo um vegetariano almoçar todos os dias numa churrascaria ou um defensor dos direitos dos animais usar sapatos feitos de couro de jacaré. Sendo assim, não seria incoerência uma pessoa que defende direta ou indiretamente regimes que restringem a liberdade de expressão se utilizar de uma ferramenta que potencializa essa liberdade?
Abaixo, enumero treze contextos que demonstram que o Facebook representa tudo o que o socialismo rejeita.
1° – O Facebook originou-se nos Estados Unidos, não noutro país, porque a liberdade de expressão é respeitada. Qual governo da América Latina permitiria que uma pessoa comum criasse uma rede social com suas próprias políticas de privacidade e termos de uso, usada para criticar e ridicularizar políticos, formar grupos e organizar manifestações contra o governo? Nenhum. O Facebook atrai usuários exatamente por oferecer a liberdade que regimes socialistas coíbem.
2° – Mark Zuckerberg e seus colegas de faculdade eram dignos representantes do que os socialistas chamam de “elite branca burguesa” − jovens alienados e pervertidos que criaram uma rede social visando promover a farra dos estudantes. Pior: Zuckerberg é judeu.
3° – Logo que sua rede foi expandida para outras universidades, Mark Zuckerberg enxergou a possibilidade de obter altos lucros e procurou investidores capitalistas que impulsionaram seu negócio até chegar à escala atual, com mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo. Sob a ótica marxista, Mark Zuckerberg contribui para acentuar a desigualdade social e econômica, já que ele se tornou mais um bilionário enquanto ainda existem pessoas passando fome no mundo.
4° – A falta de regulamentação estatal possibilitou o Facebook ser um importante vetor do liberalismo, com pessoas e empresas promovendo ideias, produtos, serviços e viabilizando negociações espontâneas, livres da intromissão do governo. Ou seja: o Facebook é a mais escrachada apologia à liberdade econômica.
5° – O Facebook permite que cada pessoa selecione “amigos” em função de seus interesses e preconceitos particulares, o que, sob a ótica socialista, incita discriminações.
6° – O Facebook também permite que seus usuários selecionem livremente quais grupos e causas lhes são mais interessantes, o que estimula a percepção de que não precisamos do estado para nos dizer o que é bom e o que é ruim.
7° – Completando a apologia ao livre mercado, o Facebook permite que as pessoas punam as empresas que agem de forma discriminadora ou fraudulenta. Hoje, empresas temem muito mais uma publicação crítica a seus produtos ou serviços que se torne viral no Facebook do que processos abertos na justiça estatal. Ou seja: o Facebook incita as pessoas a rejeitar o estado.
8° – Enquanto os socialistas cobram que a sabedoria estatal “democratize da mídia”, o que seria nada menos do que desmantelar os grandes veículos de comunicação à força, a gigantesca empresa capitalista chamada Facebook possibilita que qualquer cidadão do mundo seja um repórter, desminta a grande imprensa e denuncie o governo. Graças ao Facebook, a opinião pública é cada vez mais formada pelo conjunto de publicações de pessoas comuns dispersas por toda a sociedade − mais uma vez, contrariando a ideia socialista de controle da imprensa para “proteger a sociedade” de supostas manipulações.
9° – Para o desespero dos socialistas, as ações dos governos ao redor do mundo estão sendo cada vez mais pautadas pela opinião de cidadãos comuns a partir do termômetro do Facebook, reduzindo o movimento sindical ao ridículo.
10° – O Facebook comprova a eficiência das iniciativas privadas de solidariedade. Pessoas comuns podem sensibilizar a sociedade com muito mais facilidade do que governos. Por meio de simples publicações, podem chamar a atenção de milhões de pessoas ao redor do mundo sobre questões ambientais, humanitárias, políticas e econômicas numa escala muito maior do que métodos típicos da esquerda como parar o trânsito, vandalizar a cidade e incitar a violência.
11° – Enquanto os socialistas insistem que o estado deve ser o principal promotor da arte, o que acaba privilegiando os artistas “bem relacionados” e aqueles enquadrados num ou noutro grupo pré-identificado pelo governo − geralmente vinculados à esquerda − o Facebook possibilita que qualquer artista, independentemente de sua ideologia, religião, “raça” ou opção sexual divulgue seu trabalho, conquiste público e ganhe dinheiro.
12° – Lembrando que o Whatsapp pertence ao Facebook, foi o aplicativo, e não as regulações governamentais, que obrigaram as tradicionais empresas de telefonia a melhorar e baratear seus serviços, comprovando definitivamente que só a liberdade econômica qualifica as relações de mercado.
13° – Mark Zuckerberg se diz de esquerda. Ele pode se enxergar e dizer o que quiser, e isso por si só torna evidente o valor do capitalismo, que não cobra bajulações, fidelidade ou apologias. Mesmo alguém como Zuckerberg, que critica o capitalismo, pode criar uma das empresas mais capitalistas do mundo – sem distribuir igualmente suas ações aos bilhões de “proletários” do mundo, claro, afinal socialismo bom é só com o dinheiro alheio.
Contudo, lembro aos socialistas que nada os impede de substituir o Facebook por uma rede desenvolvida e viabilizada por eles mesmos. Uma nova a revolucionária ferramenta de interação social sem publicações fúteis, burguesas, machistas, nazistas, fascistas, racistas, opressoras ou “neoliberais”, com grupos voltados exclusivamente para a construção do socialismo e páginas de promoção e venda de produtos fabricados sem a “exploração do trabalho”. Anúncios de grandes corporações capitalistas seriam rejeitados. Publicações de mulheres e de pessoas negras, gays ou pobres seriam especialmente impulsionadas pelo Foicebook para reparar séculos de indiferença da classe burguesa.
Creio, inclusive, que a esquerda não teria dificuldades em conseguir verbas de governos para viabilizar essa nova rede. Prevejo até um lançamento simultâneo em Cuba e na Venezuela, demonstrando para todo o mundo o poder e a “independência” da América Latina.