A cada dia surge um novo herói das massas e dos oprimidos para nos tacar na cara como o capitalismo não funciona, como esse mundo é doente e como caminhos para o inevitável apocalipse. Da esquerda vêm os heróis da pátria, sempre com a mesma ideia de “eu sou o caminho, a verdade e a luz”, portanto sigam-me que eu tenho a solução. Falham miseravelmente, e sempre. A esquerda é uma piada superada.
Ok, nenhuma surpresa até aqui.
Acontece que essa manhã me chegou o texto de um Gustavo Tanaka (cidadão que, talvez por completa ignorância, eu desconheço), refletindo sobre como devemos assumir que o capitalismo realmente não funcionou, e que, portanto, devemos repensar um novo sistema para o mundo.
Tanaka, aliás, para o espanto de todos, assumiu-se um NÃO esquerdista.
E foi isso, talvez, que lhe fez chover aplausos. É como quando um negro critica o sistema de cotas: “viu, eles próprios acham isso uma imbecilidade!”. Aliás, só pode realmente ser esse o sucesso dos aplausos, pois a qualidade do conteúdo do texto, além de ser um maçante “mais do mesmo”, é de questionabilidade absoluta.
Eu explico.
Tanaka listou oito pontos essenciais, os quais ele acredita serem o alicerce da falência do sistema capitalista, e eu sigo seu encalço, respondendo a cada um.
Vamos lá.
Esgotamento de recursos
Inegável tudo aquilo que o autor listou. Estamos sim poluindo rios e lagos, queimando a Amazônia, etc. Sem entrar no mérito de que estes argumentos me soam como uma princesa Disney em seu discurso de formatura da oitava série, mas enfim… O capitalismo é o culpado?
Errado, cara pálida.
O homem vem poluindo rios e destruindo florestas desde quando (infelizmente) surgiu nesse pequeno planeta azul. Por todos os sistemas pelos quais passou, da caverna aos foguetes, o homem destruiu, poluiu e consumiu a Terra.
Hoje, no entanto, o mundo tem muito mais gente, e os efeitos são, é claro, muito mais devastadores. Por outro lado, se hoje nos espantamos com isso (a ponto de escrever textos medíocres dizendo que “o mundo está cinza”), esse é um motivo de comemoração! Há cem anos ninguém nem se importava com isso.
É o homem que é insustentável, não o seu sistema. Qualquer que seja.
A evolução tecnológica proporcionada pelo mundo atual é a maior responsável e única aliada REAL na luta pela sustentabilidade do mundo. O Capitalismo não é o mesmo monstrão único há trocentos anos. Ele já foi comercial, mercantil, industrial, financeiro, e agora caminha para mais uma mudança, de moral, de pensamento, de atitudes, mas isso não é graças a nenhum outro sistema ou benfeitor que surja dizendo “pobre de nós, vamos pensar logo uma solução para o mundo”. Não. O capitalismo está mudando porque as pessoas estão mudando — estão até mesmo se espantando com a poluição na Terra.
Mas principalmente porque é um sistema que permite ser mudado, alterado, renovado, e desmantelado em sua essência para dar espaço, naturalmente a algo novo, mas sem perder a sua essência: a liberdade.
Então não venham, por favor, querer “criar” um sistema novo. Apenas SEJA o sistema que você quer ver. A natureza agradece.
Desconexão com a natureza
Aqui o autor diz “não ensinamos a plantar tomates, mas sim a passar no vestibular”.
Ok.
E a culpa é do capitalismo? Oi?
O capitalismo incentiva o empreendedorismo. Você não precisa de vestibular se for foda o suficiente par começar seu próprio negócio.
Ah, sim, mas o governo também precisa autorizar. E será seu sócio que mais lucrará. 😉 (uma pena para o capitalista).
Mas vamos lá. O autor cita que precisamos voltar ao contato com a natureza. E eu concordo. Não queremos todos acabar como os humanos de Wall-E, embora eu já esteja bem próximo.
O que não podemos esquecer é que, embora milhões passem fome nos dias de hoje, bilhões passariam caso não houvéssemos industrializado a produção de alimentos.
Dito isto, eu preciso perguntar: de qual exemplo capitalista vem a informação de que “ninguém mais sabe plantar tomate”. Se você falar dos EUA, eu vou concordar, muito embora o meio oeste e o sul daquele país sejam tão caipiras e ricos de cultura agrícola quanto nosso interior (talvez mais). Mas dê uma olhadinha em países que deixam os ianques no chinelo. Países evoluídos de verdade, onde, NESTE MOMENTO, está sendo construído o capitalismo que vai reger nossa vida no futuro. Veja bem, eu disse CONSTRUÍDO, e não discutido em Facebook para saber se Stalin matou mais que Hitler ou não.
Na Escandinávia, em alguns locais, propostas como bairros inteiros onde as pessoas mantém hortas em seus quintais e trocam produtos entre vizinhos são uma realidade. Conheçam a aposta de Malmö, conheçam a B-samfundet, conheçam os ZEBs da Noruega.
Tudo capitalista, tudo rentável, tudo livre, tudo de bem com o mundo e com as pessoas.
Falar de capitalismo citando apenas um exemplo (talvez o pior deles, mas confesso que também o maior) é mais fácil do que pesquisar o panorama geral. É preciso estudar a vanguarda, ver o que está por vir e não o que já não funcionou e está fadado ao fim próximo.
A condição bizarra que alçamos a economia.
“O Deus mercado”. Não é raro ouvir esse termo, e o autor tem razão: a economia é um monstro do qual não podemos escapar. E não podemos mesmo, é impossível, nem tente.
2 + 2 vão ser eternamente quatro. Não importa o quanto você tente dar um jeitinho, o quanto crie leis, o quanto empurre pra lá ou pra cá, o quanto tente fazer as coisas por paixão.
A matemática é e sempre será fria. Se nos preocupamos com uma boa economia é porque sabemos que quando os números não vão bem, fatalmente serão refletidos em cada um.
Todos conversamos diariamente SIM, a respeito da chuva e do calor, aliás, o “clima/tempo” ocupa o mesmo tempo (senão mais) nos noticiários televisivos de horário nobre, quanto a parte de economia, que muitas vezes é empurrada apenas para os jornais da meia noite. Conversamos o tempo todo sobre chuva e sol. Isso se chama small talk, quebra gelo, conversa de ponto de ônibus. A todo momento falando se amanhã chove ou não, muito embora pouco (ou quase nada) possamos fazer a respeito. Já a economia, ela está sob nosso controle. Os números que mexemos aqui ou acolá determinam onde ela vai parar, mas não há como esperar que somando 2 + 2 obtenhamos 17.
Tememos a economia, mais uma vez, porque tememos a nossa própria estupidez, e a das pessoas que estão em seu controle. O erro não é do sistema, é do indivíduo.
Uma sociedade de escravos do sistema
“Quantas pessoas você conhece que gostariam de fazer algo diferente das suas vidas, mas não fazem porque tem que pagar as contas no final do mês?”
(o autor começa com essa frase)
MUITAS! Eu respondo na lata. Eu inclusive. Mas quantas, apesar das contas ao final do mês, não deram conta de trilhar exatamente o caminho de seus sonhos?
Eu já estou cansado de me afogar em uma enxurrada diária de postagens e notícias de pessoas que simplesmente “largaram tudo” e foram viver viajando, ou ficaram milionárias vendendo aquilo que gostavam de fazer. Essa coisa de largar o emprego e empreender. Ou mesmo aquelas pessoas que vivem de seus trampo das coisas que a natureza dá.
Se você se preocupa em pagar as contas ao final do mês, EXISTE UM CAMINHO, que muitas vezes pode atrasar um pouco os sonhos daqueles que não tem força de vontade suficiente para persegui-lo, MAS também partirá de você a determinação de não se importar com as contas ao final de mês, de viver do que bem entende, de seguir seu rumo e abandonar o sistema. Sim, é possível, muito embora o sistema ofereça coisas atraentes demais, né…
O capitalismo pode até falhar ao tentar nos mostrar que somos presos a um sistema, mas falha ainda mais aquele que acredita nisso.
A meritocracia não é um modelo justo.
Em primeiro lugar, o autor precisa entender que meritocracia é uma coisa, capitalismo é outra. Capitalismo é simplesmente a liberdade de mercado. Não tem absolutamente NADA a ver com meritocracia, embora muitas vezes os dois termos possuam defensores em comum.
O fortíssimo argumento de que as pessoas não estão no mesmo patamar para disputar uma corrida, é certo. As pessoas não são iguais e têm origens diferentes, com problemas diferentes. A grande questão é que isso jamais vai mudar.
Houve apenas um momento na história humana onde as pessoas eram iguais, com origens iguais e problemas iguais, e esse momento foi na largada. No exato momento em que o primeiro macaco desceu de uma árvore e decidiu que iria caminhar sobre duas patas.
A partir daí foi cada um por si e Deus por todos.
Algumas conquistas duram por gerações e nós não podemos tirar do indivíduo o direito de transmitir seus ganhos para quem ele bem quiser. A hereditariedade é um direito inato tal qual Sófocles citou em Antígona a respeito do enterro. Que sentido existiria em conquistar algo para sua existência, se este algo não pudesse ser transmitido para seus descendentes? E que culpa possuem esses descendentes por terem recebido algo pelo que lutou seu antepassado?
A corrida humana não para nunca, e para ZERAR tudo novamente, será preciso resetar o mundo. Matar a todos e deixar por aí somente um Adão e uma Eva.
É claro que (incesto à parte) em poucas gerações, tudo estará uma bagunça novamente, e surgirão novos oprimidos urgindo por igualdade.
A igualdade é possível, mas em direito, não em fato. Se quisermos trazer à tona a igualdade de direito, devemos nos conformar com a extinção da liberdade.
Por outro lado, parte também da liberdade humana, o entendimento, bom senso e sensibilidade para compreender sua própria vantagem por sobre os outros, pois, se ele não teve culpa de seus privilégios, tampouco teve o outro, culpa por seus infortúnios.
A compaixão está liberada e é instituto primordial do capitalismo, muito embora, as vezes, possa parecer que não. Liberdade e compaixão caminham juntos. Se algo me é tomado para dar aos outros, nenhuma compaixão existiu.
Lembro-me de Renato Russo: disciplina é liberdade, compaixão é fortaleza.
Nossa maior força é a compaixão. Disciplinemo-nos, como fazem aqueles países da vanguarda capitalista, para melhorar a disparidade desta “corrida”, através da liberdade e jamais da imposição.
Uma sociedade que não valoriza a arte
Preciso copiar mais um trecho:
“É mais importante ser produtivo que ser criativo. Uma pessoa que sabe vender é mais útil que uma que sabe criar. Alguém que obedece as regras consegue mais oportunidades que alguém que tem o pensamento disruptivo.”
Mentira. Mentira deslavada. Em um mundo tão competitivo, ser criativo nunca esteve tão em alta. O próprio empreendedorismo, instituto que é fruto do capitalismo, é a maior das provas de quem inova se dá bem.
Caso arte fosse objeto de preferência, caso as pessoas REALMENTE se importassem com arte, ela seria a coqueluche do mercado, e os artistas (os verdadeiros), seu grandes magnatas.
Não podemos (nem devemos) impor aos outros o que devem ou não gostar. Mas caso todos tivessem amplo desejo em consumir arte, ela seria o novo petróleo.
O problema é que as pessoas não se importam. É preciso, portanto, mudar a cabeça das pessoas. A falha não é, MAIS UMA VEZ, do capitalismo. É sua.
O “hate the game, not the player” não funciona para o capitalismo. Aqui, a falha é do player mesmo. Pode hatear a vontade.
Nunca é suficiente
A crítica aqui é a como as empresas precisam estar sempre em crescimento. E elas realmente precisam. Afinal, existem mais pessoas a cada dia, mais consumidores a cada dia.
Volto ao primeiro tópico: o que faz o mundo não ser sustentável é o ser humano. Ou matamos uma caralhada de pessoas de uma vez para dar uma aliviada na mãe Gaia, ou impedimos que novas pessoas nasçam. Sinto dizer, mas a tendência, é sim, piorar.
Se minha empresa vende para 10 pessoas hoje, ela sem dúvida tem possibilidade de vender para 11 amanhã.
Culpa da biologia, não do capitalismo.
Podemos nos resguardar cada vez mais e passar a consumir cada vez menos. Ótimo. Mas o crescimento não vai parar. Eu prefiro acreditar no novo homem que vem surgindo, aliado ao mercado livre e globalizado, à tecnologia de ponta e ao espírito empreendedor que lhe fará criar alternativas para um mundo novo, absolutamente sustentável e, por que não, rentável.
As empresas precisam crescer sempre mais. Mas você não.
Se sua cabeça vive no futuro e você sente dificuldade de se concentrar no presente por estar sempre em busca de mais, mais uma vez, o fraco é você.
Policie-se e seja feliz.
Vida sem equilíbrio
Talvez seja a parte onde com a qual eu mais concordo. Vivemos um mundo sem equilíbrio. Nos alimentamos mal, dormimos mal, não temos tempo para quem amamos.
Para que viver, afinal, se viver é viver assim?
Mais uma vez (cansei de tantos “mais uma vez”) eu sigo dizendo: analisemos a vanguarda do capitalismo. Analisemos as maiores empresas, como Google, como Facebook, onde as pessoas sentem desejo de trabalhar.
Analisemos as pequenas agências das capitais, as grandes agências do mundo, os escritórios mais modernos.
O cenário é beeeeeeeeeem distante deste “Tempos Modernos” chapliniano que o autor descreve. Bem longe da Metropolis de Fritz Lang, de 1927.
O cenário é bom. O que vem por aí é bom.
Concordo com o lixo das cabeças atrasadas e ainda atreladas a um capitalismo que não mais existe, mas sei que minha realidade periférica não pode me impedir de vislumbrar o brilhantismo que tencionamos atingir se buscarmos apenas UMA mudança:
A nossa.
O capitalismo não precisa acabar, ele só vai mudar, como até hoje mudou.
Com o perdão do trocadilho financeiro, mas o capitalismo é um cheque em branco, somos nós que decidimos seu valor e como usar. E se nós estamos mudando, ele, inevitavelmente, também está.
Posso não ter o gabarito daquele autor, para cobrar 380 reais por palestras que costumo ministrar sem custo (mas cada um capitaliza aquilo que quiser, certo?), porém finalizo com algo que acredito poder ensinar:
Aprendam de uma vez por todas, o capitalismo é um modelo pautado na filosofia da plena liberdade DE SER. Entretanto, estúpidos como somos, o confundimos e creditamos a ela a plena e medíocre liberdade DE TER.
Desse modo, se o capitalismo falhou, na verdade, quem falhou, miseravelmente, foi você.
Jamais se esqueça, o capitalismo lhe permite tudo, até mesmo não ser capitalista. E muitas vezes capitalizar dinheiro com isso.