Herman Mashaba é um libertário e defensor do capitalismo que fala, sempre que possível, sobre os males de um estado grande e de legislações trabalhistas como o salário mínimo. Ele também é o mais novo prefeito de Joanesburgo, a maior cidade da África do Sul com 4,4 milhões de habitantes, um fenômeno único numa nação dominada há 22 anos por um partido de esquerda com comandantes comunistas ou líderes sindicais.
Menos de um mês após ser eleito prefeito da cidade – a eleição aconteceu no dia 22 de agosto – Mashaba está colocando rapidamente e de forma enérgica as ideias de liberdade em prática. Sua gestão está distribuindo milhares de títulos de propriedade para os mais pobres, planejando transformar a cidade em um grande canteiro de obras privadas e reduzir a burocracia e os impostos pagos pelas pequenas e médias empresas a fim de gerar empregos.
“O meu emprego está em jogo”, diz Mashaba, afirmando que os eleitores podem votar contra ele na próxima eleição se sua gestão não reduzir o desemprego na cidade de 31% para 20% em quatro anos.
Mashaba é o primeiro libertário da história a se tornar prefeito de uma grande cidade em todo o continente africano. Sua defesa do livre mercado é muito mais ampla inclusive do que a feita pelo seu partido, a “Aliança Democrática” (Democratic Alliance – DA), o único partido com viés liberal do país. Por exemplo: enquanto o DA apoia a existência do salário mínimo, Mashaba critica a existência da lei como um “sistema perverso que impede os mais pobres e menos educados de avançarem na vida”. Em sua posse, Mashaba declarou a corrupção como inimiga número um da cidade, defendendo a redução do poder do governo municipal para enfrentá-la.
Defendendo como valor máximo a liberdade individual, Mashaba critica a “cultura de dependência” e regulação excessiva da África do Sul. “Eu só quero que o governo nos deixe em paz”, diz. Quando o repórter do Globe and Mail diz que ele é o única voz libertária comandando uma prefeitura no país, ele ri. “Eu nasci sozinho. A minha vida não é moldada por outras pessoas”.
Negro e filho de uma empregada doméstica e órfão de pai desde os 2 anos de idade, Mashaba cresceu na pobreza em uma comunidade negra carente próxima a Pretoria. Durante o apartheid, quando o regime estatal tomado por brancos dificultava que negros abrissem empresas, ele superou todos os obstáculos e se tornou milionário ao criar um império de produtos para o cabelo chamado “Black Like Me” (“Negro Assim Como Eu”).
Agora, ele defende aplicar as lições que aprendeu durante a vida à gestão pública. Ele ainda se considera um empresário e não um político. “Estou dizendo a todos os investidores, ‘se você quer ganhar dinheiro, venha para Joanesburgo’. Eu posso eliminar os gargalos”.
Mashaba se filiou a um partido político pela primeira vez na vida há dois anos, quando se revoltou com os escândalos de corrupção e a retórica de luta de raças do presidente socialista Jacob Zuma. Especialistas políticos diziam que ele era fraco e não tinha chances de ser eleito.
O “Congresso Nacional Africano” (African National Congress – ANC), o partido de Zuma, teve 44% dos votos em Joanesburgo, 6% a mais que a “Aliança Democrática”, mas Mashaba se tornou prefeito com o apoio acidental de um terceiro partido, o “Combatentes da Liberdade Econômica” (Economic Freedom Fighters – EFF). Ironicamente, o EFF é um partido marxista-leninista ainda mais de esquerda do que o ANC e tem líderes que chamam a DA de “partido dominado por brancos” e Mashaba de “negro que odeia a própria cor”. Mas o EFF odeia ainda mais o ANC e deseja tirá-lo do poder em todos os locais possível, mesmo que isso signifique apoiar um partido liberal. E foi assim que os 11% dos votos do EFF ajudaram Mashaba a se tornar prefeito de Joanesburgo, conhecida localmente como a “cidade do ouro”.
Graças à sua origem humilde, Mashaba se declara a favor dos pobres. Uma das suas primeiras medidas foi cancelar o plano da ANC de criar novas ciclofaixas, que definiu como um “luxo da classe média”, preferindo gastar os 5 milhões de dólares já destinados para o projeto com casas para pessoas de baixa renda.
Mas a verdadeira medida de Mashaba para ajudar os mais pobres é fazer o setor privado deslanchar. Essa semana, seu governo convidou investidores da construção civil para uma reunião, com a expectativa de que 40 deles aparecessem, mas mais de 100 investidores lotaram a reunião interessados em suas ideias. No dia seguinte, o novo prefeito criou uma força tarefa para reduzir regulações, melhorar a limpeza das ruas, aumentar o policiamento e aprimorar a infraestrutura. “Eu quero transformar essa cidade em um canteiro de obras privado, urgentemente”, afirma.
Tradução: Marcelo Faria