O fracasso do longa-metragem “Porta dos Fundos : Contrato Vitalício” funciona como perfeita síntese da produção cinematográfica brasileira que só existe por causa da regulação imposta pelo estado.
O filme conta com apoio direto do governo, de uma major norte-americana (Paramount), de uma grande distribuidora nacional (Paris Filmes) e de um gigante da TV (canal Telecine, do grupo Globo). Teve 3,5 milhões de reais em dinheiro público via incentivo fiscal. Foi objeto de massacrante campanha publicitária, cujo alcance veio desde empolados cadernos culturais até programas popularescos como o TV Fama, da Rede TV.
Mesmo assim, a produção amarga bilheteria pífia, apresentando uma relação entre valores investidos e retorno digna dos maiores fracassos de Hollywood.
A explicação para tal fato é mais simples do que parece.
Embora a história do cinema esteja repleta de filmes ruins que fizeram sucesso e de filmes bons que fracassaram – muitas vezes sendo virtualmente impossível apontar causas racionais para o comportamento do público – no caso do filme do “Porta dos Fundos” a explicação serve para quase a totalidade da produção brasileira. Atualmente, a produção nacional está dividida em dois modelos: há os filmes que simplesmente levam às salas de cinema fórmulas repetidas à exaustão na televisão aberta (comédia besteirol, por exemplo) e filmes que são mero produto da agenda da esquerda (filmes de “minorias”, “denúncia da ditadura”, com temática bolivariana, ou contracultural, aos quais ninguém quer assistir – exceto a militância que se confunde com os próprios realizadores dos filmes).
Há “Porta dos Fundos” suficiente para quem, de alguma forma, aprecia este tipo de humor. É possível ver as mesmas caras na web, de graça, e mesmo na televisão aberta. Os canais por assinatura estão atolados desse mesmo humor pretensamente “sofisticado”. O próprio grupo já lançou diversas atrações na TV fechada onde pratica a mesma “arte” oferecida agora nas salas de cinema. Com pouco dinheiro em circulação (fruto direto do desastre econômico causado pelos políticos que despertam a paixão de alguns integrantes do próprio “Porta dos Fundos”), pouca gente estará disposta a pagar 40 reais numa sala de cinema para ver exatamente a mesma coisa que tem de graça, na Internet ou na TV.
O problema não reside no fato de que o filme seja lançado, nem que algumas pessoas eventualmente apreciem esse tipo de atração – afinal, no livre mercado, paga quem quer pelo que quiser segundo sua conveniência. O absurdo está no fato de obrigar o dinheiro do contribuinte a sustentar uma operação que sequer deveria ter sido iniciada porque a atração já existia antes na web – onde via de regra foi financiada de maneira privada.
Em resumo: a política cultural de “apoio ao cinema” financia com o dinheiro dos pagadores de impostos o que, de outro modo, existiria por conta própria com dinheiro privado ou sequer existiria porque ninguém está muito interessado. E depois jogam a culpa do fracasso de nosso cinema no “imperialismo”.