A Venezuela está lutando para imprimir novas notas com rapidez suficiente para acompanhar o ritmo acelerado do aumento dos preços (gerado justamente pela impressão desenfreada de dinheiro). A maior parte do dinheiro, como quase tudo no país, é importado. E com as reservas afundando para níveis perigosamente baixos, o Banco Central está pagando tão lentamente os fornecedores estrangeiros que está colocando em perigo os negócios.
Ou seja: a Venezuela está tão quebrada que pode não ter dinheiro suficiente para pagar pela impressão do seu próprio dinheiro.
Bancos lotados
A história começou no ano passado, quando o governo do presidente Nicolás Maduro tentou abafar um crescente déficit da moeda. Pedidos de vários milhões de dólares foram feitos com uma série de fabricantes de notas antes das eleições e dos feriados de dezembro, quando os venezuelanos lotam os bancos para sacar seus bônus de final de ano.
Em vez de um processo de licitação pública, o Banco Central convocou uma reunião de emergência e pediu que as empresas produzissem o máximo de notas possível. As empresas concordaram, mas depois descobriram que receberiam os pagamentos devidos com atraso.
No mês passado, a De La Rue, maior fabricante de dinheiro do mundo, enviou uma carta ao Banco Central reclamando de uma dívida de US$ 71 milhões. Em 2015, o Banco Central da Venezuela comprou mais de 10 bilhões de notas, ultrapassando os US$ 7,6 bilhões que o Federal Reserve americano adquiriu este ano para uma economia muito maior do que a venezuelana.
A inflação mais alta do mundo
A atual crise cambial lança luz sobre a magnitude dos problemas financeiros do país e sua capacidade limitada de remediá-los. A inflação na Venezuela, a mais alta do mundo, deve chegar a 500% esse ano de acordo com o Fundo Monetário Internacional.
Os primeiros sinais de “escassez” de moeda apareceram em 2014, quando o governo começou a aumentar as transferências de notas aos bancos porque já era preciso uma grande quantidade de dinheiro para pagar transações simples. Os venezuelanos passam horas nas filas para comprar bens de consumo básicos e a primeira coisa que fazem é sacar dinheiro em bancos e caixas eletrônicos, muitas vezes carregando mochilas e bolsas para levar dinheiro suficiente para pagar por um simples jantar.
Antes das eleições legislativas de 2015, o Banco Central pediu que a inglesa De La Rue, a francesa Oberthur Fiduciaire e a alemã Giesecke & Devrient trouxessem cerca de 2,6 bilhões de notas. Antes da entrega ter sido concluída, o Banco Central pediu mais notas para as empresas. A De La Rue ficou com a parte do novo pedido de 3 bilhões de notas e contratou a Canadian Bank Note Company para garantir que poderia cumprir o prazo apertado de fim de ano.
Sob a mira de atiradores de elite
O dinheiro chegou em dezenas de aviões 747 e jatinhos alugados. Sob a proteção de forças de segurança e atiradores de elite, as notas foram transferidas para carros-forte e posteriormente levadas ao Banco Central no meio da madrugada.
Enquanto o dinheiro ainda estava chegando, o Banco Central fez um novo pedido de 10,2 bilhões de notas para atender a demanda de 2016. Foi quando as empresas de impressão de dinheiro começaram a ter problemas. A De La Rue começou a ter seus pagamentos atrasados pelo governo venezuelano ainda em junho, e posteriormente as outras empresas também começaram a ter atrasos em seus pagamentos. Como resultado, as empresas se comprometeram a entregar “apenas” 3,3 bilhões de notas.
No fim, a inflação gerada pela excessiva impressão de dinheiro transformou a nota mais “valiosa” do país, a nota de 100 bolívares, em um pedaço de papel que mal paga um cigarro solto em uma banca de jornal.
Território desconhecido
Ainda em 2013, o Banco Central encomendou estudos para imprimir notas de 200 e 500 bolívares. Apesar disso, nenhuma nova nota foi efetivamente criada.
Agora as atuais fornecedoras estão se afastando do governo venezuelano. O Banco Central está em negociação com novas empresas, como a russa Goznack, e tem um contrato com o americano Crane Currency, de acordo com documentos e fontes da indústria.
É uma questão de tempo até que o governo venezuelano adicione zeros às notas para continuar alimentado a inflação no país até a inevitável quebra do regime socialista.
Tradução: Marcelo Faria