“Jogadores de futebol não deveriam receber tanto”, “É injusto o Neymar ter um salário maior que de um médico”, “Professores deveriam ser tão valorizados quanto jogadores de futebol”. Quantas vezes você já ouviu essas frases ou variações delas e nem ao menos parou para analisá-la e ainda por cima a reproduziu pelos cantos?
É comum cairmos na falácia de achar que a valorização, seja em relação ao salário ou até mesmo em relação ao prestígio, seja inerente às boas ações do profissional e como essas ações impactam em uma amostra da sociedade. Mas não necessariamente funciona assim, a valorização parte também da seguinte questão: o profissional faz o que outras pessoas podem fazer igual ou melhor? Se a resposta for sim, dependerá de quantas pessoas podem fazer o que esse profissional faz. Se forem muitas pessoas, a valorização desse profissional tende a cair, se forem poucas, tende a aumentar. Agora se a resposta para a pergunta for não, o céu pode ser o limite para esse profissional.
Mas muita calma nessa hora! Apenas se o que este profissional faz for de interesse de pessoas que estão dispostas a pagar pelo o que ele faz é que ele será valorizado. Não adianta o Fulaninho da Silva ser ótimo em apertar parafusos com os dentes e quase ninguém ter essa mesma capacidade que ele. Qualquer empresa no mercado vai preferir um operário que saiba lidar com uma chave de fenda, por exemplo. O que determina a remuneração é a criação de valor para outras pessoas.
A média salarial dos médicos está acima da média salarial de jogadores de futebol. Isso acontece porque não há muitas pessoas dispostas a investirem em um curso de medicina dispendioso (até mesmo para quem faz em universidades públicas) e difícil, o qual requer anos de dedicação e muitas horas de sono perdidas, e, em contrapartida, a medicina é algo que as pessoas pagam caro quando precisam, ou seja, é uma área com demanda grande e oferta em baixa. Não é a virtude em ser médico que faz a profissão ter uma média salarial de mais de oito mil reais por mês. Comparar jogadores excepcionais com o médico do posto de saúde do seu bairro é injusto e você saberá o porquê.
Mas antes vamos falar sobre os professores. Dar aula para o ensino fundamental não é fácil, porém é perfeitamente possível qualquer pessoa com um pouco de dedicação ser capacitada para isso. Eu fiz meu ensino médio na rede pública estadual e em meu colégio haviam duas opções de ensino médio, o regular e o de formação de professores de ensino fundamental. Isso significa que um jovem de 18 anos pode ser professor (idade comum entre estagiários e jovens aprendizes). Quando esses professores se especializam com graduação de nível superior e pós-graduação, tendem a ficar mais valorizados no mercado de trabalho.
Chutar uma bola? Muitos podem fazer com o mínimo de qualidade, tanto que a maioria dos jogadores profissionais de futebol ganham pouco: 80% dos jogadores de futebol profissional ganham até mil reais. Agora ser um dos três melhores jogadores do mundo? Essa proeza foi conquistada somente por três pessoas esse ano: Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo. Ainda assim, isso não significaria nada se o futebol não fosse um esporte popular e não pudesse ser capitalizado.
Fulaninho da Silva pode ser o melhor jogador de taco do mundo que provavelmente continuará sem prestígio. Taco pra quem não sabe, é uma brincadeira/esporte jogado eventualmente por crianças em diversas periferias de nosso país. O taco não possui uma federação, não é um esporte olímpico, não possui apelo popular e sequer tem pequenos campeonatos estudantis desse esporte amador para que haja algum prestígio. Já Neymar, é um dos três melhores no esporte mais popular do planeta. O futebol dele gera milhões por ano para o Barcelona em receita através de patrocinadores e direitos de imagem pagos pelas redes de televisão de todo o mundo. Nada mais justo que o Barcelona recompense o seu segundo melhor jogador com uma fatia desse bolo.
Quando criamos juízo de valor sobre quem deveria ter mais prestígio, estamos ignorando as leis de mercado e pondo nossas opiniões acima do que a sociedade como um todo deseja. Quando um parlamentar cria projetos de leis de piso e teto salarial para uma classe, é como jogar um barril de pólvora numa fogueira. Uma única pessoa não poderia saber quanto uma classe deveria no mínimo e no máximo receber, isso quem diz é a sociedade através do mercado.
Se você quer tentar receber o mesmo que o Neymar, agregue valor para o máximo de pessoas dispostas a pagar pelo o que você pode oferecer a elas. E se você quer que Neymar receba menos, pare de assistir jogos do Barcelona e da Seleção Brasileira, e tente convencer o máximo de pessoas a fazer o mesmo. Quem sabe assim você tenha êxito.