Muitos podem estar se perguntando o motivo da alta da bolsa diante um cenário político tão caótico e incerto com a escolha do ex-presidente Lula para ministro-chefe da Casa Civil. Teoricamente, o afastamento do Impeachment e a possível guinada à esquerda como defendem os esquerdistas deveria assustar os investidores, mas aconteceu o contrário. Por que?
Talvez poucos se lembram do cenário político-econômico em 2002, quando o Lula concorria à presidência da república. As promessas do candidato era, caso fosse eleito, dar calote na dívida pública, aumentar os gastos públicos e ir contra privatizações de estatais. E o que aconteceu? A eleição de Lula criou um enorme pânico no mercado. Investidores retiraram dinheiro do país com medo de calote e desvalorização do real; o dólar havia chegado o seu maior valor desde a criação do Plano Real e atingiu R$ 4,00.
Em 2003, quando Lula assumiu o cargo, sem opção, ele mudou radicalmente de estratégia e fez exatamente o oposto do que prometeu em campanha. Para acalmar o mercado, ele escolheu o “neoliberal” pró-mercado Antônio Palocci, que teve como seu braço direito o liberal Marcos Lisboa, e depois escolheu Henrique Meirelles para comandar o Banco Central.
Com esse time liberal, o petista conseguiu fazer uma das gestões mais ortodoxas de nossa história recente. Não houve intervenção do estado na economia para controlar inflação, o governo fez superávit primário para pagar a dívida e o banco central segurou a inflação dentro da meta (seguiu o tripé-econômico criado no governo FHC).
De volta ao cenário atual, a escolha de Lula para um cargo com “superpoderes” vai além de proteger o ex-presidente de uma eventual prisão, é também uma forma de usar a última carta da manga do PT e resgatar a confiança no mercado. Lula tem demostrado que pretende adotar a mesma estratégia de 2003. Após aceitar o cargo no ministério, ele propôs a nomeação de Meirelles para o Banco Central. Nesse momento, o ex-presidente deu sinal para o mercado que pode abandonar as intervenções do governo no mercado e adotar uma política séria no controle inflacionário, como aconteceu em seu primeiro mandato.
Ontem o mercado, que acabara de receber uma notícia positiva da economia americana com a FOMC, reagiu positivamente a notícia da possível escolha de Meirelles. As ações de várias empresas dispararam. Mas essa euforia pode ser meramente especulativa.
Diferentemente de 2003, o cenário externo não está favorável para o Brasil. No primeiro mandato do Lula, foi razoavelmente fácil controlar a inflação porque não precisou cortar gastos para fazer superávit primário (dinheiro dos impostos para o pagamento da dívida). A valorização das commodities agrícolas no mercado mundial havia puxado a economia brasileira e permitiu que Lula continuasse aumentando os gastos sem elevar a inflação.
Já nos tempos atuais, em que a China, maior parceiro comercial do Brasil, está em desaceleração e seguido da queda dos preços das commodities no mercado internacional, a solução para a crise brasileira não é nada trivial. A cartilha ortodoxa para sair desse buraco vai além de escolher um liberal para o comando do Banco Central, é preciso cortar gastos para pagar a dívida. Ou seja, sem ajuda externa, o Brasil precisaria adotar medidas amargas, e isso não é o forte de políticos de esquerda.
Embora Lula tente mostrar ao mercado que não vai desvalorizar a moeda, isto é, imprimir dinheiro para estimular a economia, em uma das gravações vazadas pelo Juiz Sérgio Moro, Lula paradoxalmente defende a injeção de crédito via BNDES para aquecer a economia. E isso é um sinal claro do que aconteceria com a economia no médio e longo prazo: entraria ainda mais aos frangalhos.
O Lula jamais trairia sua militância para fazer o que ele nunca defendeu e muito menos Dilma Rousseff. O que ambos querem é tentar agradar gregos e troianos. E dessa vez isso não será possível. A escolha de Lula por Dilma é um fracasso igual a escolha do liberal Levy (ex-ministro da Fazenda nomeado por Dilma). O PT já perdeu na economia e não vai demorar muito para cair. E a bolsa só vai subir de vez quando finalmente esse dia chegar.