Com o “vazamento” da lista da Odebrecht contendo o nome de inúmeros políticos brasileiros que receberam verba da empresa para suas campanhas, muitas questões vêm à tona. Por um lado vemos a oposição real ao governo e ao establishment comemorando a quantidade de políticos de todos os partidos listados e do outro lado os governistas comemoram de maneira frenética o fato de nomes como Aécio Neves e companhia estarem na lista. Analiso de uma maneira mais pragmática e ampla. Vejo três tipos de políticos listados ali.
Primeiro, o político que recebeu verba para campanha ilegalmente e isso deve ser investigado, independente do partido. Depois, uma leva de políticos que se defendem dizendo que as doações listadas foram todas declaradas e, portanto, estão dentro da legalidade. Como sou favorável ao financiamento privado de campanha, não coloco objeções e isento esses de culpa caso não façam parte também do primeiro grupo. E temos o pior tipo, o mal caráter e hipócrita, aquele que recebeu legalmente e é a favor do financiamento público de campanha como Maria do Rosário, a rainha da hipocrisia.
Esse tipo de acontecimento deve trazer à tona novamente a discussão sobre o tipo de financiamento das campanhas políticas no Brasil e vejo mesmo entre militantes de direita e alguns liberais uma divisão ideológica neste sentido. No meu caso, sou totalmente contra o financiamento público e explicito aqui o motivo.
O principal argumento utilizado a favor do financiamento exclusivamente estatal é o combate à corrupção – e acredito que essa medida vai fazer justamente o contrário, vai incentivar a corrupção.
Imagine que você é um político corrupto que precisa de dinheiro para sua campanha e para viver em seu sítio em Atibaia ou gastar 20 mil reais em um restaurante em Paris. Hoje a Lava Jato está basicamente rastreando todos os recursos ilícitos desviados para as campanhas dos políticos porque este dinheiro tem que ficar ou ser utilizado dentro do país que é aonde a Polícia Federal tem agilidade e legalidade para atuar. Sendo esses recursos provenientes de empreiteiras ou de estatais, o caminho que dinheiro percorre é longo e a estrutura para burlar a lei é complexa, exigindo muitas pessoas e empresas, o que permite que a Polícia Federal puxe o fio da meada e consiga delações, por exemplo. Por outro lado, o dinheiro do exterior é usado para construir patrimônio.
O governo – com apoio maciço do Congresso – aumentou no ano passado o fundo partidário para quase 1 bilhão de reais. Isso irá acabar com a corrupção? Claro que não. Os partidos no governo ainda terão como meter a mão na cumbuca do estado para financiar suas campanhas. Os empreiteiros deste cartel maligno que se formou no Brasil desde a redemocratização vão continuar pagando para ganhar contratos de maneira mais segura e simples, pagando fora do Brasil. Aonde a Polícia Federal não tem acesso sem ajuda estrangeira.
O empresário, como parte ativa da economia e gerador de empregos, tem que ter o direito e o poder de influenciar a política abertamente assim como qualquer cidadão comum. Mas para eliminar o conflito de interesses, os doadores devem ser proibidos de participar de contratos públicos e empresas com contratos ativos devem ser impedidas de doar. Enquanto isso não acontecer, eles vão continuar se sentando em volta de uma mesa para lotear obras públicas e “ajeitar o edital”, com a diferença que agora os 3% pro partido serão enviados via Suíça, Ilhas Cayman etc.
Com financiamento público o partido no poder sempre terá mais dinheiro para suas campanhas, diminuindo a chance de alternância ou evolução de pensamento. Lembrem-se que existe algo mais sedutor do que dinheiro: o poder.
Quanto ao nome de Lula e Dilma não constarem da lista… Os donos da festa não precisam de nome na lista, não é verdade?