O primeiro lugar onde tive contato com o feminismo foi na universidade pública. Desse período, lembro de uma frase em particular que escutei e li (principalmente em pichações) e que provavelmente é a frase favorita dos militantes desse movimento: “Lugar de mulher é onde ela quiser!”. À primeira vista, parece uma frase muito bonita, não é? Podemos interpretar que denota força, luta por direitos, liberdade ou o tão famoso “empoderamento” da mulher. O problema é que o discurso não condiz com a realidade. Mesmo me formando em um curso essencialmente de humanas, nunca me deixei seduzir por essas palavras que, apesar de aparentemente terem um significado profundo, na verdade são falsas.
Cheguei a duas conclusões a respeito do feminismo. A primeira é que os integrantes do movimento falam bastante em luta contra os padrões impostos pela sociedade “machista e patriarcal”, ao mesmo tempo em que elas mesmas impõem padrões, inclusive estéticos, ao grupo. Sim, porque se vestir mal, escrever utilizando uma linguagem supostamente sem gênero mas que na verdade não passa de um miguxês dos tempos de Orkut adaptado, repetir os mesmos jargões e palavras de efeito como se fosse membro de uma seita religiosa (“machista! fascista! opressão!”), passar a impressão que não cuida de si mesma e mudar completamente a aparência física depois do ingresso na universidade também é uma forma de impor e seguir padrões previamente estabelecidos por um grupo. Até hoje, ainda não vi uma feminista militante que não tenha aquela típica aparência bizarra da antes e depois da federal.
A segunda conclusão é que a frase “lugar de mulher é onde ela quiser” só vale caso essa mulher siga os padrões de uma típica mulher moderna do século XXI. Essa mulher tem que seguir uma carreira, ter mestrado, doutorado, viajar pelo mundo, não saber cozinhar, ter faxineira, não pensar em casamento, fazer sexo com vários homens antes de casar (e se casar, né?), ser politicamente correta, etc. Caso você seja uma mulher que tenha interesses domésticos, siga princípios cristãos ou simplesmente trabalhe no lar, você não é vista por essas supostas defensoras da liberdade feminina como uma mulher livre e que merece ser respeitada pela sua escolha. Sim, escolha! Essas pessoas parecem não entender que existem mulheres que optam por cuidar da casa, que possuem gosto por afazeres domésticos ou cuidar da própria família. É claro que, no discurso do movimento, é sustentada a versão de que o feminismo é para todas, mas sabemos que não é verdade. O mais recente exemplo foi a polêmica renascida das cinzas com o projeto Escola de Princesas, que inclusive abrirá uma filial na cidade de São Paulo.
A Escola de Princesas é um projeto, segundo o site, “criado para levar ao coração de meninas valores e princípios morais e sociais que as ajudarão a conduzir sua própria vida com sabedoria e discernimento”. Dentre os módulos do curso, há aulas de etiqueta, alimentação, educação financeira, culinária básica, primeiros socorros, costura, limpeza, funcionamento de ambientes, etc. Qual o problema de uma menina, por escolha dos pais, aprender a manter uma casa organizada, saber realizar um orçamento doméstico ou cozinhar? Não deveria haver nenhum, visto que essas coisas são extremamente necessárias e úteis na vida adulta, inclusive para homens.
Entretanto, segundo as mesmas supostas defensoras da liberdade da mulher “fazer o que quiser”, o fato dessa escola existir é um retrocesso machista, uma escola de Amélias que perpetua o conservadorismo. Percebem a diferença? Você pode ser o que quiser, menos uma mulher que procure desenvolver prendas domésticas, do lar. Será que haveria toda essa revolta se a escola em questão fosse exclusiva para meninos que querem tornar-se princesas? Duvido. A iniciativa seria louvada por “romper paradigmas de preconceito com crianças transgênero”.
Um dos cursos oferecidos pela escola também fala em “restauração de valores morais e princípios do matrimônio”, mas, novamente, qual o problema de uma menina ter contato com esse tipo de ideia? Independente do que ela escute no curso, não quer dizer necessariamente que irá crescer com a ideia na cabeça e que a leve ao pé da letra na adolescência e idade adulta, ou mesmo que essa mesma menina, que na infância almeja se tornar princesa, cresça, passe no vestibular em um curso qualquer em universidade federal e se torne… feminista.
Nessa mesma semana, a chanceler alemã Angela Merkel ouviu do Presidente da Nigéria, Muhamadu Buhari, que o lugar de sua esposa era na cozinha e nos demais cômodos da casa. A chanceler manteve a pose diplomática e ignorou o comentário. Alguém viu alguma feminista falando que isso é retrógrado? Cadê a Emma Watson, embaixadora da boa vontade da ONU, protestando no Twitter? Até agora não vi absolutamente nenhuma, afinal, quando o discurso machista vem de “minorias” ou é cultural, como no caso do Islã, nenhuma feminista ousa contestar, agindo com a mais pura submissão que tanto dizem combater.
Minha conclusão: lugar de mulher é onde ela quiser, incluindo a Escola de Princesas ou a cozinha, e isso só não é possível quando você é a esposa do presidente da Nigéria ou nasceu num país islâmico onde é obrigada a seguir regras religiosas opressoras.
O atual movimento feminista, além de ser o braço (mimimizento) da esquerda, é sinônimo de hipocrisia e desonestidade. Para as feministas, você só é mulher digna de ser defendida e respeitada caso siga os preceitos defendidos pelo movimento, do contrário, é motivo de chacota.