Acho legal reparar a cabeça das pessoas nessa confusão da precoce emancipação político-intelectual do brasileiro.
Um dos mais crassos entendimentos, agora generalizado, é o erro comum de pensar que o protesto de um rico não é válido (como se ele não fosse digno de direitos políticos) ou então (pior ainda) considerar que ele vem “odiando” ver o pobre ficar menos pobre.
Errado.
O Brasil é famoso por possuir uma das elites mais sedentárias do mundo. Se tem rico protestando, é porque mexeram drasticamente no seu bolso!
E calma, isso não é bom.
O que ocorre a partir daí, é que as pessoas tendem a entender que se o rico está menos rico, e em analogia à música daquele não tão saudoso grupo de axé, o pobre estaria, automaticamente, menos pobre.
Errado mais uma vez. O que acontece na maioria das vezes é justamente o contrário.
Parafraseando a Dama de Ferro, o grande problema é que o que importa para o coração flamejante das massas, principalmente as massas vermelhas, é que a “desigualdade” esteja menor, ou seja, a distância entre ricos e pobres seja mais curta, não importando que estejam AMBOS na miséria. Um é miseravelmente pobre, e o outro, apenas pobre. A desigualdade entre ambos é bem pouca, mas estão ambos na merda. Mais ou menos, só que de forma menos trágica, como Machado de Assis sugere com a frase “ao vencedor as batatas”.
Para quem discursa assim, ainda que os pobres se tornem ricos, o grande trauma será a existência dos milionários, sacou?
Tem gente protestando por tudo, por MUITA bobagem também (tem até os fetichistas militares), mas não tem UMA ALMA NESSE PAÍS revoltada porque “a filha da empregada está na faculdade e a empregada está andando de avião”.
Não existe na história deste planeta uma situação onde um governo tenha ferrado a elite e o povo, em sua grande maioria, tenha se saído bem. O que aquele professor socialista de história não contou é que elites são trocadas por novas elites. A coroa só pula de uma cabeça pra outro. Não se iluda com qualquer ladainha que tente convencer do contrário: toda oligarquia opressora é sustentada por um estado que se vale de seus lucros. Quem torna a elite mais “elitosa”, sinto dizer, é o estado.
Parece cruel da minha parte e muito pouco romântico. Mas é assim que a coisa funciona.
Quem luta contra “a elite” está definitivamente lutando contra o inimigo errado. Essa síndrome de Estocolmo misturada com inveja tem que acabar. O verdadeiro inimigo é o estado.