O brasileiro é bombardeado todos os dias com informações de novelas, jornais, rádios, Facebook e uma ideia parece incutida na sua cabeça. Em algum momento da vida muitos pensaram ou pensarão que estão sendo explorados de alguma forma, seja no trabalho, seja na escola ou faculdade ou até em um relacionamento amoroso. Algo como o pensamento coletivo (consciência coletiva de Émile Durkheim) manifestado pelo brasileiro.
Este pensamento, que todo brasileiro teve em algum momento da vida, muitas vezes ocorreu por preguiça de pensar ou ainda como mea culpa. Certa vez, conversava com um profissional da área de saúde que trabalhou como autônomo em uma clínica. Em determinado momento, a pessoa supracitada disse a frase, que mesmo para quem não conhece o conceito de luta de classes, está na ponta da língua: ”O dono da clínica me explorava, eu ganhava X e o dono da clínica 3X”.
Essa ideia de exploração parece tão presente na cabeça das pessoas que elas pensam de maneira linear: “ganho tanto, mas o cara que não faz nada ganha três vezes mais que eu”. Dissecando o assunto, explanei para a pessoa que os custos de manter uma clínica são altíssimos, que os impostos são surreais para empresas, que ela demoraria muito tempo para conquistar uma clientela que a mantivesse ocupada durante o dia todo, que só o investimento inicial pra se montar uma sala da clínica já é altíssimo, fora possíveis custos judiciais e despesas gerais. A reação de muitas pessoas com esta confrontação muitas vezes não é muito boa, pois muitos passam ao menos, pelos dois primeiros estágios do luto no modelo de Kübler-Ross:
- Negação: ainda prefere pensar que está sendo explorada. O pensamento linear é de fácil compreensão (maniqueísta), a preguiça de pensar ou teimosia mantém a pessoa nesse estágio;
- Raiva: Geralmente a raiva é mais ligada às besteiras que proferiu, ou por ter se dado conta que perdeu aquela oportunidade por causa de um modelo mental limitado (ou babaca).
Todos corremos o risco de pensar assim, eu mesmo já coloquei impostos e outros custos nas contas, e quando tinha a ideia de que era explorado, procurava refletir sobre as diversas causas que reduziam meus rendimentos. Isto ficou evidente depois de um emprego no regime CLT, quando claramente percebi que quem nos explora é o estado.
Mas, há solução para este modelo mental limitante? Talvez, a solução se encontra no último estágio do luto, a Aceitação. Aceitar que não existem exploradores e explorados em trocas voluntárias, aceitar que em uma troca voluntária, por puro auto-interesse, os dois lados ganham. Aceitar que quem está dirigindo a empresa, clínica, escritório, tem o know how ou no mínimo a iniciativa, para estar à frente dos negócios, que se são eles que conseguem os clientes, eles também são responsáveis por pagar impostos pesadíssimos…
Essa aceitação vai bem mais longe do que isso, aceitar que cada um é responsável por si e que não há mágica governamental para substituir isso. Aceitar que somos explorados pelo estado e não por aqueles que arriscam seu tempo e dinheiro no mercado, empregando milhares de pessoas. Aceitar que direitos trabalhistas são, na verdade, ônus trabalhistas, que as coisas custam caro no Brasil graças a impostos abusivos, contribuições e taxas. O Brasil tem um longo percurso para chegar à aceitação, muitos passarão por todos os estágios do modelo de Kübler-Ross, mas aos poucos talvez percebam que a busca pela responsabilidade da liberdade, pode ser um grande alento para consciência.