Sob o pretexto de “refletir sobre o que significa a democracia na vida cotidiana do brasileiro”, o SESC (Serviço Social do Comércio) de São Paulo promove uma mostra de cinema onde apenas a visão da esquerda encontra espaço.
A “Mostra Democracia à Brasileira”, convenientemente programada em um momento onde a própria esquerda questiona o funcionamento da democracia e alega “golpismo” para defender o petismo moribundo, oferece ao público 13 eventos de 21 de junho a 9 de agosto. Entre eles, a exibição dos títulos:
– “Cidadão Boilesen”, documentário que procura “estabelecer relação entre o empresariado nacional e a ditadura militar”;
– “Cara ou Coroa”, ficção sobre “a resistência à ditadura militar”;
– “O Dia Que Durou 21 Anos”, documentário que tenta culpar os norte-americanos a retirada do poder de João Goulart em 1964;
– “A Memória Que Me Contam”, ficção sobre um “grupo de amigos de resistência à ditadura militar no Brasil”;
– “Por Que Você Quer Fechar a Minha Escola?”, documentário sobre o movimento de extrema esquerda que promoveu ocupação de escolas no Estado de São Paulo;
– “Branco Sai Preto Fica”, ficção na qual um homem vem do futuro para provar que “a culpa de um tiroteio é da sociedade repressiva”.
Também está programada uma série de debates e exibição de títulos do diretor brasileiro Eduardo Coutinho, um célebre militante comunista conhecido do grande público pelo episódio no qual decidiu tirar de um de seus documentários (“Peões”) um depoimento no qual uma entrevistada afirma que Lula “bebia demais” nos tempos de sindicalismo no ABC (quando o alcoolismo do petista era a mais conhecida de suas fraquezas). Nesta entrevista de 2004, Coutinho fala com carinho de Lula e demonstra certa intimidade com personagens habituais do noticiário político, como Gilberto Carvalho e José Dirceu:
“Preservar sua intimidade é uma das qualidades do Lula.”
“Tenho a impressão de que quando o Lula aceitou fazer o filme ele queria o registro da sua extraordinária capacidade de mobilizar multidões…”.
“O interessante é o fato de Lula ser carne, osso, sangue, ambíguo, complexo, paradoxal, tudo ao mesmo tempo.”
“Uma qualidade dele é não guardar ressentimentos.”
E por aí segue.
Não há nenhum título ou evento da mostra que não possa ser facilmente encaixado dentro da agenda cultural da esquerda brasileira, a mesma que tem defendido o retorno de Dilma Rousseff à presidência.
Convém lembrar que o SESC é sustentado por contribuições que incidem sobre a folha salarial das empresas do setor de comércio, serviços e turismo, ou seja, impostos recolhidos de milhões de brasileiros todos os anos.
Na verdade, é totalmente habitual que o debate motivado por filmes no Brasil seja um mero pretexto para a esquerda nacional discutir consigo mesma – nas escolas, nas faculdades, nos festivais, nos museus, nos centros culturais, nas TVs educativas, nas organizações de classe (inclusive patronais), nas ONGs. Tem sido sempre assim e o SESC não é exceção.
Enquanto a esquerda continuar encontrando terreno fértil para propagação de sua agenda política sob o falso pretexto de “atividades culturais”, será difícil derrotar o imaginário que ainda sustenta o estatismo predominante na mídia e no ambiente universitário brasileiro.