A formalização da ditadura socialista na Venezuela evidenciou os métodos utilizados por aqueles que vêm, desde a metade do século passado, infernizando a América Latina.
Primeiro, Hugo Chávez tentou um golpe militar. Falhou, mas foi devidamente transformado em herói por artistas, intelectuais e sindicalistas da Venezuela.
Trocou, então, a estratégia revolucionária pela democrática. Passou a defender a legalidade, a liberdade política e de imprensa em nome da pluralidade para debater as necessidades da população. Com esse discurso chegou ao poder; e, a partir daí, investiu sistematicamente no contrário.
Enquanto conquistava a confiança da população criando programas sociais, financiou grupos e milícias de apoio, entupiu o governo de militantes, abriu os cofres do governo para grandes empresários aliados, apontou inimigos internos e externos, nacionalizou empresas estrangeiras, interveio em outras, perseguiu e prendeu opositores, fechou o maior canal de televisão do país e exaltou um desenvolvimento artificial e com prazo de validade.
Hugo Chávez quebrou a Venezuela, mas morreu como herói.
Nicolás Maduro, criatura de Chávez, não herdou apenas um país falido, submergindo na miséria, mas também o discurso socialista de que o governo precisava de mais poder para vencer os sabotadores da revolução.
Subornando uns e perseguindo outros, conseguiu o poder que precisava.
Mantendo os programas sociais de seu antecessor, aumentou o intervencionismo estatal na economia e na imprensa, fechou jornais, expropriou empresas, restringiu o fluxo de capital, impediu a realização do plebiscito previsto na Constituição e, na semana passada, mandou fechar a Assembleia Nacional.
Segundo Maduro, os parlamentares da oposição são os responsáveis por transformar o país mais rico em petróleo do continente num país miserável onde 81% da população esta na miséria.
No fundo, Maduro planeja moldar a Constituição do país em função de seu projeto totalitário, preservando-se no poder até o fim da vida como ditador, mantendo o discurso de igualdade social e luta contra o “imperialismo”, tal qual Cuba faz há quase 60 anos. Se as forças armadas reagirem, Maduro também vencerá. Os socialistas daqui e de lá gritarão que o governo eleito democraticamente foi deposto por “sanguinários militares representando a extrema direita conservadora apoiada pelos Estados Unidos”.
A despeito do colapso social, econômico e institucional, Maduro seria elevado à condição de herói. A militância socialista não permitiria que ele fosse punido pelos crimes que cometeu. Ganharia asilo em algum país; e dele, continuaria fazendo discursos, incitando a luta de classes, o levante do povo contra “golpistas”, capitalistas e qualquer outro vilão de ocasião.
A militância socialista latino-americana repetiria tantas vezes e por tanto tempo sua fantástica versão dos fatos que, em poucas décadas, muitos teriam a certeza de que Nicolás Maduro foi um grande e sábio líder, que promoveu grandes avanços sociais na Venezuela, mas acabou vencido pelo ódio dos “golpistas”.
Aqui, temos nossas próprias versões de Chávez e Maduro.
Lula se ergueu politicamente prometendo uma revolução socialista clássica com estatização de bancos, escolas e grandes empresas. Cativado o público da extrema-esquerda, empenhou-se em conquistar a classe média e o povão. De radical, passou a se apresentar como um moderado, prometendo respeitar a propriedade privada e os contratos já estabelecidos. Mudou o visual. Vestiu bons ternos. Virou “paz e amor”. Foi eleito.
Sem qualquer pudor, iniciou uma campanha de desqualificação do trabalho de seu antecessor ao mesmo tempo em que dava continuidade à política econômica dele. Rebatizou os programas sociais criados por FHC e iniciou uma política de financiamento oficial de grupos, movimentos e canais midiáticos comprometidos com o partido. Entupiu o estado de militantes. Canalizou toda a corrupção existente para controlar a roubalheira e obter proveito dela. Conseguiu.
Além de criar seus próprios esquemas, passou a cobrar comissão dos esquemas criados pelos outros. Desviou dezenas de bilhões dos pagadores de impostos para os bolsos de grandes empresários para, deles, receber de volta parte do dinheiro.
O boom das commodities lhe deu respaldo para aparecer todos os dias na televisão dizendo que promovera o melhor momento econômico da história do Brasil. Muitos acreditaram. Lula deixou a presidência como herói.
Sua sucessora foi sua criação. Uma guerrilheira comunista transformada em defensora da democracia. Uma mulher sem qualquer mérito profissional elevada à condição de grande gestora.
Dilma seguiu o roteiro traçado por Lula, ampliando os programas sociais, financiando a militância, alimentando os esquemas de corrupção e mentindo sobre a situação financeira do país para se reeleger. A verdade não tardou. O Brasil estava quebrado. Os pobres continuavam pobres. Os programas sociais não fizeram nada além de criar uma zona de conforto dentro da pobreza.
Veio o impeachment. Como prêmio pelos bons serviços que prestou à organização criminosa sediada em Brasília, Dilma ganhou o direito à aposentadoria especial e preservação de seus direitos políticos. Mesmo tendo sido delatada por diversas pessoas como partícipe dos esquemas de corrupção investigados na Lava Jato, Dilma foi elevada à condição de vítima; e aquele que o próprio PT escolheu para ser vice-presidente foi taxado de “golpista”, assim como todos os cidadãos comuns que desejaram que ela sofresse impeachment, conforme manda a Constituição.
Hoje sofremos com os efeitos da maior recessão da história do Brasil e com um verdadeiro descalabro institucional, onde todos os poderes foram corrompidos. E a dupla que afundou o Brasil na maior recessão de sua história agora diz que o novo presidente, há menos de um ano no cargo, está destruindo o país.
Depois de criar programas insustentáveis, triplicar a dívida da União, injetar mais de R$ 1,2 trilhão dos pagadores de impostos em empresas que hoje estão quebradas ou implicadas na Lava Jato, desperdiçar montanhas de dinheiro em eventos esportivos e outros projetos sem retorno, rebaixar o Brasil nos índices de qualidade de educação, infraestrutura e liberdade econômica e desmantelar os sistemas de saúde e de segurança pública, a dupla petista acusa o novo governo de destruir a economia e os “avanços sociais”.
Depois de jogar mais de 13 milhões de pessoas no desemprego, Lula e Dilma dizem que a reforma trabalhista irá jogar os trabalhadores na miséria. Depois de estourar as contas públicas distribuindo empregos no governo e benefícios a funcionários públicos, Lula e Dilma dizem que a reforma da previdência é um crime de ódio contra os idosos.
Ao mesmo tempo em que acusam a oposição de tentar destruir a Lava Jato, dizem que a Lava Jato não tem legitimidade, é fascista.
Faltando um mês para o depoimento de Lula a Sérgio Moro, os petistas organizam 70 mil militantes para ir à Curitiba intimidar a justiça e prestar apoio ao ex-presidente corrupto. Prevendo uma eventual voz de prisão, militantes estarão de prontidão na frente da casa de Lula em São Bernardo, para intimidar a Polícia Federal; e, claro, para compor a cretina versão de que o povo estava inconformado com a prisão de seu líder.
Nestas manifestações, farão de tudo para provocar uma reação violenta da polícia para, com sorte, ter a morte de um ou mais militantes – e o surgimento de mais alguns mártires.
No tribunal, Lula dará o seu próprio espetáculo, empenhando-se na estratégia do desacato, tentando forçar o juiz a prendê-lo, o que também seria muito bem utilizado pela militância socialista, que promoveria um verdadeiro escarcéu.
Lula e Dilma, enquanto pessoas, poderiam até perder alguma coisa. Condenados e presos, teriam que devolver o dinheiro que roubaram. Mas seus personagens seriam preservados e reverenciados pelos verdadeiros pilares do socialismo: os militantes voluntários de classe média que atuam a serviço dos militantes profissionais espalhados nas universidades, sindicatos e palcos do Brasil.
A admiração e o apoio de uma pessoa à outra reflete alguma afinidade, ou seja, esta pessoa enxerga algo de si na outra. Alguém que admira um ladrão é, no mínimo, um potencial ladrão. Alguém que admira um assassino é, no mínimo, um potencial assassino. Alguém que admira um pedófilo é, no mínimo, um potencial pedófilo.
Alguém que apoia Lula e Dilma é, no mínimo, um potencial canalha.