O Brasil foi surpreendido hoje pela decisão do deputado federal Waldir Maranhão, atualmente presidente interino da Câmara dos Deputados após o afastamento de Eduardo Cunha pelo STF, de declarar nulo o processo de impeachment. A decisão será submetida julgamento pelo STF e, muito provavelmente, revertida. Mas cabe analisar um pouco mais a biografia daquele que está sendo comemorando pela esquerda como aquele que está impedindo o “golpe”.
O maranhense Waldir Maranhão Cardoso, nascido em São Luis no dia 4 de agosto de 1955, é veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão. Foi primeiramente eleito deputado federal pelo PSB, em 2006, 64.286 votos (2,23% do total), reeleito em 2010 (já pelo PP) com 106.646 votos (3,50%) e está em seu terceiro mandato como deputado federal após receber 66.274 votos (2,16% do total) em 2014. Nesse meio tempo foi candidato a prefeito de São Luis em 2008, tendo apenas 2.644 (0,5%) votos e ficando na nona colocação.
Os casos de corrupção em que Maranhão está envolvido começaram na campanha de 2010, que teve sua prestação de contas pelo TRE-MA por recebimento de recurso de fonte não identificada. Além disso, a campanha de Maranhão teve um verdadeiro milagre de multiplicação de dinheiro: Maranhão doou para si mesmo um valor 33 vezes maior do que sua declaração de bens: doações de R$ 557,5 mil, em espécie, quando havia declarado dispor de R$ 16,5 mil em espécie, sem qualquer menção a conta corrente ou aplicação financeira. O Ministério Público Eleitoral pediu a cassação do mandato, mas, em 2015, com o início da nova legislatura, o processo foi arquivado. Em 2014, Maranhão “milagrosamente” já possuía um patrimônio declarado de R$ 813 mil.
Maranhão também ocupou a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Maranhão (entre 2009 e 2010), o que posteriormente gerou uma condenação do governo maranhense e indenização de R$ 104 mil em função de um ato tomado por Maranhão – uma pesquisadora desenvolveu um programa de inclusão digital, não recebeu o pagamento e a secretaria logo após apresentou um programa semelhante, posteriormente mencionado pela Justiça como tendo comprovada “similaridade entre o programa elaborado (pela pesquisadora) e o programa lançado pelo governo”.
Além disso, Maranhão enfrenta dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal – o mesmo motivo que afastou Eduardo Cunha – por ocultação de bens e desvios de recursos de fundos de pensão que teriam movimentado R$ 300 milhões em um ano e meio. Maranhão também é investigado na Lava Jato por lavagem de dinheiro e recebimento de propina – repasses mensais entre R$30 mil e R$150 mil – do doleiro Alberto Youssef, bem como por participação na quadrilha que desviou recursos e fraudou contratos da Petrobras com empreiteiras.
Fora isso, um delator da Operação Miqueias afirmou que Maranhão recebeu R$ 60 mil ao intermediar um aporte de R$ 6 milhões da prefeitura de Santa Luzia, no Maranhão, em um fundo de investimento mantido pela quadrilha do doleiro Fayed Treboulsi. Conversas reveladas pela Veja mostram Maranhão e Treboulsi tratando de reuniões com prefeitos, incluindo um áudio que mostra uma negociação de merenda escolar.
https://soundcloud.com/veja-com/waldir-maranhao-a-gente-consegue-fazer-um-negocio-bom-audio-3
Em março de 2015, Maranhão teve um veículo Toyota Hilux penhorado pela Justiça do Maranhão para assegurar parte do pagamento de uma dívida com uma gráfica, referente à campanha de 2014. O deputado fez um acordo e se comprometeu a pagar R$ 1,1 milhão, mas deixou de pagar as parcelas. Houve uma busca, por meio do sistema do Banco Central, que não encontrou nenhum valor vinculado ao deputado no sistema bancário.
Por fim, Waldir Maranhão é autor de iniciativas de “extrema relevância” para o país, como uma homenagem ao Bumba Meu Boi (em regime de urgência), além de ter atuado no Conselho de Ética da Câmara a favor de Eduardo Cunha. Em abril, por exemplo, Maranhão limitou o poder de investigação do Conselho ao determinar que seus membros só poderiam analisar a suspeita de que Cunha mentiu quando negou possuir contas na Suíça. Dessa forma, ficaram de fora as suspeitas de recebimento de propina e uso do cargo pra fins pessoais. Antes disso, Maranhão já havia manobrado pela destituição de um dos relatores do processo, contribuindo para que a ação contra Cunha tenha se tornado a mais demorada da história do conselho.
Essa é a pequena ficha corrida de Waldir Maranhão, o deputado que votou contra a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff – tendo mudado de ideia três dias antes da votação, a pedido do governador comunista do Maranhão e aliado de Dilma, Flavio Dino, que lhe ofereceu apoio à candidatura ao Senado em 2018 caso votasse contra o impeachment – e que hoje está sendo comemorado pela esquerda como aquele que está impedindo o “golpe”.