O confronto entre garotas de programa com algumas feministas mais radicais, ficou acalorado em grupos de discussão e já trouxe consequências para os Jogos. Enquanto as prostitutas lutam pelo direito de vender o corpo (por ser dela) e serem respeitadas como trabalhadoras normais, as feministas agem contra essa proposta.
A ativista e advogada Eloisa Samy, considerada uma das líderes feministas, acredita que a prostituição representa a principal forma de exploração da mulher em uma sociedade patriarcal. Por isso, pede que haja uma maior fiscalização em torno da cafetinagem durante os Jogos e defende até o aumento da intervenção policial para inibir a ação dos clientes em potencial e a exploração das mulheres.
“Eu não posso admitir que um evento olímpico, que preza o bem estar das pessoas com tão nobres ideais, se preste a servir a uma causa tão mesquinha, que é a principal forma de exploração da mulher e da objetificação dos nossos corpos”, afirma Eloisa.
A também feminista materialista Daniela Lima chama a atenção e pede fiscalização para a questão da pedofilia. “Em uma situação de mega eventos, o turismo sexual não se separa da pedofilia, não pode ser descolado da exploração de menores. É um quadro, uma realidade. Prova disso é que pegaram espaços de exploração infantil em torno da Vila Olímpica”, afirma.
A prostituta e transexual Indiara Siqueira aumenta o coro contra as feministas. Para elas, as garotas de programa representam, na verdade, um enfrentamento ao machismo. “As prostitutas fazem sexo sem intenção de reproduzir, elas cobram, quebram com o patriarcado. Prostitutas são as feministas que rompem, as mais revolucionárias. Elas têm liberdade, são donas dos corpos delas, livres e empoderadas. Sabemos que há mulheres que sofrem na prostituição, mas sofrem mais nos lares domésticos, casadas. A maioria das mulheres é estuprada por homens de confiança a serviço do patriarcado e que fazem sexo de graça. É mais seguro ser puta que esposa nessa sociedade”, afirma.
Olimpíadas
A batalhas das feministas contra a prostituição durante o evento esportivo não tem sido uma boa ideia. A crise econômica tem afetado o mercado de prostituição no Brasil e muitas prostitutas têm esperanças de ter melhores ganhos com as olimpíadas. Além de enfrentar a crise, agora tem que enfrentar as feministas.
“A gente espera ganhar, mas já temos experiência na Copa em que não tivemos esse lucro todo. Espero que os Jogos tragam mais estrangeiros. Mas vai ter uma repressão muito forte, muitos lugares de prostituição foram fechados, lugares em Copacabana foram fechados. E tem o exército na rua em Copacabana, uma repressão muito grande, muito combate”, afirma. “A prostituição não vai ser fácil, a gente não vai ter regalia. E a gente espera não ter regalia, mas no mínimo que lucre todo dia”, completa Indianara, Garota de programa e transexual.
Ágata Oliveira é outra profissional do sexo que pretende sair do centro e migrar para Copacabana na tentativa de ter mais sucesso. Mas ela reclama: “Tem muita polícia na rua, está difícil trabalhar”.