Os resultados da política e imposição econômica socialista na Venezuela, está provocando uma verdadeira corrida por produtos essenciais em Pacaraima, a 250km de Boa Vista. O comércio da cidade tem funcionado de domingo a domingo e já nas primeiras horas do dia, a cidade está lotada, com filas nas lojas para a compra de itens básicos como arroz, farinha de trigo, óleo, macarrão, margarina e açúcar.
Para atender à demanda dos clientes, muitas lojas especializadas na venda de eletrônicos e até peças de carros estão reservando espaço nas prateleiras para vender comida. É comum ver lojas que antes vendiam artesanatos, bijuterias, pneus e até baterias de carro vendendo os mais diversos itens. “A gente não teve escolha. Tivemos de começar a vender comida também, se não as vendas caem e ficamos sem dinheiro. Os venezuelanos não querem nada além de comida, então tive de comprar uns fardos de arroz e colocar aqui na loja que antes só vendia artesanatos do Brasil. É a única maneira que temos para lucrar”, disse um comerciante que quis se manter anônimo.
A venezuelana Rosa Maria, de 53 anos, tem um restaurante na cidade de Puerto Ordaz e viajou quase 700 km até Pacaraima para comprar comida. Ela diz que a falta de alimentos na Venezuela está destruindo os negócios das famílias e ameaçando a sobrevivência dos filhos. “Vim comprar comida para minha família e para o meu restaurante em Puerto Ordaz. Na Venezuela não tem arroz, azeite, açúcar e, se tem, é com o preço muito alto e não tenho como comprar”, diz. “Serão 11h de viagem, mas vale a pena porque terei comida em casa”.
O operário Jossi Guillen, de 53 anos, também percorreu um longo caminho para chegar a Pacaraima. Ele saiu de Sán Felix, na região sul da Venezuela, e viajou por 10h para comprar comida para os cinco filhos que o esperam em casa. “A Venezuela está passando por uma crise muito intensa. Ganho R$ 2 por dia na empresa de alumínio em que trabalho. Por isso, não consigo comprar comida lá, porque quando encontramos alimentos, eles são muito mais caros do que aqui no Brasil. Então, temos que vir aqui para comprar mantimentos e conseguir sobreviver lá”, conta Guillen.
“Vim aqui comprar remédios para minha esposa que está doente porque também há escassez de medicamentos na Venezuela. Depois daqui, iremos atrás de comida para levar para nossa casa”, disse John Gundino, morador de Aragua, que viajou por um dia até chegar a uma farmácia de Pacaraima, que também vende comida.
A escassez de alimentos e outros itens básicos na Venezuela, é resultado de um conjunto de políticas de importação, restrições cambiais, violações de propriedade privada e a liberdade dos cidadãos venezuelanos que foram adotadas desde a gestão de Hugo Chávez e agora com o ditador Nicolas Maduro, ambos do PSUV (Partido Socialista Unido de Venezuela). Infelizmente viajar mais de 10h para comprar arroz, óleo e açúcar pode parecer absurdo, mas é ainda melhor que se alimentar de gatos, cachorros e pombos, como já fazem alguns venezuelanos.