Acredito que é um direito de cada indivíduo se manifestar sobre qualquer coisa. Acredito que artistas podem se manifestar sobre política, economia e filosofia, desde que honestamente; e a honestidade intelectual depende, necessariamente, de estudo.
Enquanto estudante de arquitetura numa universidade estatal e como artista plástico autodidata, já acreditei em muitas pautas da esquerda. Porém, quando comecei a enxergar muitas incoerências, resolvi estudar. Comprei e li muitos livros. E me curei do socialismo.
Diante disso, pergunto: se uma pessoa como Gregório Duvivier se interessa tanto por um assunto, por que ele não o estuda? Leia livros. Não precisa concordar com eles. Ele deveria ler para, pelo menos, saber o que cada campo da filosofia política defende e, a partir disso, ter sustentação teórica para rejeitar isso ou aquilo. No entanto, Gregório faz questão de se mostrar como um convicto e feliz ignorante ou pior: alguém que não tem pudor em distorcer fatos e ideias para tentar impor sua narrativa fantástica.
Dias atrás, Gregório Duvivier publicou mais um vídeo sobre um assunto que desconhece. Posando de “isentão”, fez elogios ao liberalismo clássico para, logo em seguida, dizer que os liberais do Brasil são falsos.
Vamos aos pontos:
1. O comediante cita elogiosamente John Locke, “esquecendo” de citar um dos três princípios do filósofo inglês: o direito de propriedade. Um direito que ele, enquanto apoiador do MST e do PSOL, ignora.
Aliás, Gregório “esqueceu” de citar todos os autores liberais do Século XX como Bohm-Bawerk, Mises, Hayek e diversos outros. Parece que o conhecimento sobre liberalismo dos roteiristas do programa parou no Século XIX.
2. A interpretação feita sobre a “mão invisível” de Adam Smith demonstra que Gregório Duvivier nunca leu sequer uma página de um livro do autor ou simplesmente mentiu.
O comediante resumiu o fenômeno a um sistema da “ganância”.
Se Gregório Duvivier fosse minimamente honesto, pelo menos consigo mesmo, teria dito que a tal “mão invisível” é o conjunto de imensuráveis decisões humanas que direcionam a produção e dão preços as coisas, inclusive, ao trabalho dele como comediante. A “mão invisível” é, por si mesma, a refutação da ideia de que a ganância de alguém tem poder sobre todas as incontáveis relações comerciais. O homem mais ganancioso do mundo não pode simplesmente aumentar o preço de seu produto num ambiente de livre mercado – ou seja, sem regulação e proteção estatal a empresários -, porque quem determina o preço é a oferta, o interesse e as condições econômicas das pessoas. Isso é a “mão invisível”.
3. O apoiador do PSOL fez piada dizendo que se ele tivesse gravado um vídeo pedindo liberdade plena e “igualdade de oportunidades” para todos – como um membro do Livres fez em um vídeo divulgado por Gregório – seria alvejado por diversos comentários mandando-o “pra Cuba”.
Não, Gregório, não te mandariam para a ilha-prisão.
Primeiro: em Cuba não existe liberdade e nem “igualdade de oportunidades”. Não existe liberdade plena onde uma ditadura restringe completamente a liberdade econômica, política e intelectual, e até a liberdade de buscar a felicidade noutros países.
Segundo: não existe “igualdade de oportunidade”. As pessoas são naturalmente desiguais. As pessoas nascem com características, inclinações, desejos e talentos distintos umas das outras. A única forma de “igualar oportunidades” é por meio da coerção estatal, exatamente como defendem os socialistas, nivelando toda a sociedade por baixo, na miséria.
4. De má fé, Gregório resumiu o movimento liberal brasileiro a meia dúzia de candidatos políticos. Pior, atacou aqueles que ele chama de “falsos liberais” como se ele fosse um militante do verdadeiro liberalismo.
Se o comediante fosse minimamente honesto, teria comparado os políticos que se dizem liberais aos tantos pensadores liberais que publicam livros e artigos no Brasil hoje. Não fez isso porque não quis. Ou porque tem má fé.
5. Gregório utilizou John Stuart Mill para defender a tributação sobre heranças. Sim, Mill defendia pesados impostos sobre heranças para combater os “rentistas”. Mas… e todos os autores liberais posteriores (Mill viveu no Século XIX) que foram contra o imposto sobre heranças? E os liberais atuais, tema central da “crítica” do vídeo, que também são contra imposto sobre heranças baseados no direito à propriedade? Mais fácil ignorar, Gregório?
Aliás, entre 2015 e 2016, a receita total do ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação, vulgo “imposto sobre heranças”) passou de R$ 6,54 bilhões para R$ 17,12 bilhões no Brasil. Sabe o que isto significou? Nada! Os 39 ministérios que existiam naquele período consumiam, apenas para se manterem funcionando, R$ 400 bilhões! Ou seja: o problema da falta de dinheiro não se resolve perseguindo os mais ricos, mas enxugando drasticamente o tamanho do estado, uma reivindicação liberal que a esquerda rejeita.
No mais, é importante salientar que boa parte da fortuna dos bilionários está em participações acionárias – em empresas no exterior – e não em dinheiro vivo. O que significa que o governo brasileiro não poderá cobrar impostos sobre a herança destas pessoas. Uma análise mais profunda sobre o tema pode ser encontrada aqui.
O comediante foi além: comparou impostos sobre herança do Brasil com os de países como Chile e EUA para sustentar sua crença. Ele só “esqueceu”, porém, de dizer que nesses países o estado permite a doação de quase toda a herança para instituições privadas – e é isso o que acontece. E “esqueceu” também de listar os países que não possuem impostos sobre heranças como Austrália, Canadá, China, Índia, México, Noruega, Rússia e Suécia.
Gregório Duvivier aproveita para fazer piada da afirmação liberal de que a taxação de heranças é o “imposto da inveja”. Sim, é inveja mesmo. Taxar uma pessoa apenas porque ela deixou bens para os seus descendentes é manifestação de inveja. E imoral.
6. Gregório mente muito ao dizer que os liberais americanos representam no país o liberalismo clássico inglês. Não representam! Os liberais americanos podem ser comparados aos social-democratas europeus ou aos tucanos no Brasil − esquerda! −, já que defendem regulações e programas assistencialistas estatais, coisas que os liberais repudiam pelas mais diversas razões que estão nos livros que o comediante nunca leu.
7. Gregório apela para a mentira mais uma vez ao dizer que os liberais não reclamam dos empréstimos que o BNDES concede a grandes empresas. Mentira! Os liberais brasileiros sempre defenderam o fim do BNDES! Foram os liberais que denunciaram que os empréstimos a grandes empresários feitos pelo BNDES durante o governo petista ajudariam a levar o Brasil à crise!
O comediante chega ao nível de citar os empréstimos que Temer concedeu aos empresários, “esquecendo” que Lula e Dilma (adorados por ele) foram os presidentes que mais deram dinheiro dos pagadores de impostos a grandes empresários por meio de subsídios de todos os tipos. Ao todo, nada menos do que R$ 1,2 trilhão.
O liberalismo defende que o governo não subsidie nada nem ninguém e não conceda qualquer tipo de privilégio ou benefício a qualquer pessoa que seja. A função do governo deve ser proteger a liberdade, a vida e a propriedade das pessoas enquanto indivíduos, punindo fraudadores e agressores.
8. O “humorista” afirma que os “falsos liberais” ignoram os problemas da concentração de renda como se os “verdadeiros liberais” propusessem soluções estatais para resolver o “problema”.
Os verdadeiros liberais explicam em centenas de livros e artigos que combater a desigualdade prejudica os mais pobres. Além disso, o maior gerador de desigualdade é o estado por meio de programas econômicos e da própria máquina, burocrática e política, que cria uma classes de privilegiados.
9. Gregório Duvivier chega a dizer que quem defende as “verdadeiras ideias liberais” é chamado de comunista no Brasil.
Mentira. Chamamos de comunistas apenas as pessoas que defendem grupos que invadem e depredam propriedades privadas, ostentam blusas e bandeiras com símbolos comunistas, reverenciam líderes comunistas genocidas e defendem ditaduras comunistas que acabaram com a liberdade econômica e civil da população. Ou seja: chamamos de comunista apenas pessoas como Gregório Duvivier.
10. O comediante afirma ainda que não devemos utilizar a palavra liberalismo “em vão”, entretanto, é o que Gregório mais fez em seu vídeo. Ele chega a dizer que a campanha “armas pela vida”, pelo direito ao porte de armas, é contraditória. Ora, a liberdade de autodefesa é um dos princípios sagrados do liberalismo, desde sempre.
Para finalizar, o militante de extrema-esquerda chega ao ponto de dizer que “meia liberdade não é liberdade”. Afe!
Resta-nos crer que essa e tantas outras peças de Gregório Duvivier sejam apenas gracinhas, piadas que apelam para a mentira como tentativa de fazer as pessoas rirem ou ganhar alguma audiência para um programa fracassado.