Se Jair Bolsonaro for candidato à Presidência da República em 2018, ele muito provavelmente não irá sequer para o segundo turno. Explico.
O PSL, para o qual provavelmente Bolsonaro migrará em março de 2018 (se não arranjar confusão e se desentender em mais um partido, como é praxe na história política do sindicalista militar), na janela eleitoral, possui 3 deputados federais. Mesmo que mais 20 migrem para o partido, é sobre o número de 3 deputados federais que são calculados o fundo partidário, o novo fundo eleitoral e o tempo de televisão.
Para deixar a análise mais direta, vamos supor que os partidos usem apenas o fundo eleitoral (muito maior) para a campanha. O PSL terá cerca de 10 milhões de reais para financiar todas as campanhas do partido pelo país.
O PMDB terá 234 milhões, o PT ficará com 210 milhões e o PSDB somará 181 milhões. Fora demais partidos que podem apoiá-los (PP, PSB, PSD, PR, etc) que acrescentarão mais umas dezenas de milhões à campanha.
Ou seja: mesmo que Bolsonaro torre o dinheiro inteiro do PSL em sua campanha, isto é cócegas perto dos principais partidos.
Agora vamos para o tempo de televisão: Bolsonaro terá cerca de 30 segundos, duas vezes por semana, para aparecer no principal meio de comunicação do Brasil. Lembra do “meu nome é Enéas, 56!”? Pois é, vai ser próximo disso que o Bolsonaro conseguirá falar para milhões de brasileiros.
Os candidatos do PT, PSDB, PMDB e afins terão pelo menos 10 vezes mais tempo. Dependendo da coligação, podem chegar a até 4 ou 5 minutos. Por aparição.
Agora vamos ao exemplo prático: em 2014, Marina Silva parecia despontar como terceira opção e possível presidente. Em julho de 2013, o Ibope chegou a apontar Dilma com 30% de intenções de voto contra 22% de Marina Silva (Eduardo Campos, posteriormente “morrido”, tinha 4%).
O que aconteceu? O PT tinha um caminhão de dinheiro, Dilma tinha 33 minutos de campanha por semana, Aécio tinha perto de 15 minutos e Marina Silva tinha 6 minutos. Marina foi triturada quando a campanha efetivamente começou e sequer foi para o segundo turno.
Agora imagine o que acontecerá com um candidato de um partido nanico, sem dinheiro, sem coligações relevantes, falando 1 minuto por semana na televisão e com um histórico farto de declarações polêmicas para serem apresentadas, enquanto os demais poderão até dançar na televisão se quiserem.
Ah, mas Bolsonaro tem o povo! Bom, não no maior colégio eleitoral do país. Em 2014, Alckmin teve 12 milhões de votos no Estado de São Paulo enquanto o filho de Bolsonaro (sim, era candidato à deputado, mas cabe a análise), votado graças ao sobrenome, teve 82 mil votos (só foi efetivamente eleito graças a Marco Feliciano e seus 398 mil votos). Em 2016, Doria foi eleito na cidade de São Paulo com 3,05 milhões de votos enquanto Major Olímpio, um “Bolsonaro” local, teve 117 mil votos.
Ah, mas Bolsonaro tem as redes sociais! Mesmo que todos os 5 milhões de pessoas que o seguem no Facebook efetivamente votem nele, ainda dá menos do que Alckmin teve apenas no Estado de São Paulo. Sem falar de Lula e seu curral eleitoral no Nordeste.
Mesmo com tudo isto, Bolsonaro pode passar para o segundo turno? Pode, afinal, provavelmente estará disponível na urna. Mas não se engane com as pesquisas: elas valem nada para definir o vencedor. 2014 que o diga.
Considerações extras:
1. Haverá Copa do Mundo em 2018, às vésperas das eleições (a final será no dia 15 de julho de 2018, um mês antes do início da campanha eleitoral). Querendo ou não, um eventual título da Seleção Brasileira, aliado à contínua melhora da economia, pode favorecer o candidato apoiado pela máquina federal.
2. Não é possível comparar a eleição brasileira com a americana. O sistema eleitoral dos EUA é por colégio eleitoral (por estados, com cada um definindo como será a divisão dos votos para o colégio), não majoritário como o brasileiro. Se fosse majoritário, Trump não teria sido eleito, mas sim Hillary (63 milhões de votos no total para Trump contra 65,9 milhões de Hillary). Fora que a eleição americana é praticamente um segundo turno, ao contrário do Brasil que tem primeiro turno com mais candidatos competitivos.
3. Uma das poucas chances de Bolsonaro ir para o segundo turno é acontecer nas eleições presidenciais de 2018 o mesmo que aconteceu nas eleições municipais do Rio de Janeiro em 2016: Pedro Paulo, Flavio Bolsonaro, Índio da Costa e Osório dividiram os votos do mesmo público e se canibalizaram, o que fez com que Marcelo Freixo fosse para o segundo turno. Ou seja: para Jair Bolsonaro, quanto mais candidatos dividindo o mesmo voto, melhor.
4. A regra eleitoral obriga as emissoras de rádio e televisão a convidarem somente candidatos de partidos com mais de cinco deputados federais. Aqueles que não se adequam a este critério ainda podem ser convidados, mas apenas se a emissora quiser. Ou seja, nenhuma emissora está obrigada a convocar Jair Bolsonaro para os debates.